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Oscar 2020 - rompendo paradigmas

  • Luciano Bastos, DP
  • Mar 4, 2020
  • 4 min read

O fato de Parasita ter ganho como filme, filme internacional, diretor e roteiro foi mais que uma quebra de paradigma, pois representa uma contradição entre categorias, pois a própria existência do prêmio de filme internacional ( ou estrangeiro, ou de linha não inglesa) fica sem sentido se agrupamos o mesmo entre os listados na lista principal. Se o melhor filme do ano puder ser tcheco, polonês, coreano, argentino ou de qualquer nacionalidade estranha à língua inglesa, então o Oscar teria cometido imensas injustiças nos seus mais de 90 anos de história. No entanto se isto for uma tendência dos americanos saírem de seu gradiente cultural, pode ser um bom sinal.

Mesmo guardando a importância relativa do badalado prêmio da Academia, PARASITA foi, sem dúvida, o melhor filme do ano. E isso tem ainda um significado mais interessante num ano em que a qualidade da maioria dos candidatos ao premio principal parecia ser (e foi) uma das melhores seleções dos últimos tempos. A história da família pobre que ao mesmo tempo é vítima da desigualdade quanto predadora ao enxergar uma chance de chafurdar nas delícias do capitalismo é uma forma bem construída de perceber as regras da vida em sociedade. Até a metáfora de ser a casa dos excluídos abaixo do nível da rua sugerindo que ali é o subterrâneo da sociedade funciona como uma representação nítida da distopia universal. O realizador Bong Joon Ho subiu naquele palco 4 vezes na noite do Oscar. Foi disparado o grande vencedor da noite, aplaudido por legendas como Scorcese, Sam Mendes e Tarantino seus principais concorrentes ao prêmio de melhor direção. Levou tudo.

Era uma vez em Hollywood é uma bem construída homenagem ao mundo mágico, frenético e fascinante e, muitas vezes, borbulhante do cinema. Tarantino, como gosta de fazer, subverte a história e a reconstrói do seu jeito. E, ao retocá-la, mostra uma alternativa que teria deixado todos mais felizes. Já fez isso em Bastardos, Django e agora aqui em Holywood.

1917, de Sam Mendes, é um filme emocionante sob todos os ângulos. A história é bem simples, e se limita a mostrar missão de dois soldados correndo naquelas trincheiras que caracterizaram a primeira guerra, e o olhar de perplexidade daqueles dois meninos em busca de um sentido. O plano sequência, construído num impecável trabalho de edição, nos coloca como participante daquela trágica missão, que é de tirar o fôlego. Roger Deakins leva o prêmio pela deslumbrante cinematografia.

Coringa tenta - através da entrega extraordinária de Joachin Phoenix, que só confirmou todos os prognósticos como melhor ator - revelar como é possível o caráter e o comportamento de uma pessoa deteriorar-se quando se sente completamente abandonada de proteção, de compreensão e de amor. É evidente que é uma pintura com tintas fortes, expressionistas, sobretudo quando se trata de criar traços psicológicos em um personagem que emergiu dos gibis e despertou no universo cult.

História de um casamento é um ótimo filme, mas não chega nem de perto ao nível dos outros quatro. Se destaca pelas excelentes atuações de Scarlet Johansson (sempre bela), Adam Driver e Laura Dern, que levou o prêmio de melhor coadjuvante. Noah Baumbach gosta dos filmes que tratam das questões contemporâneas, dos relacionamentos que se tornam difíceis e das escolhas individuais. Scarlet foi forte candidata ao prêmio, mas acabou perdendo para Renée Zalwegger, também favorita, por Judy.

O irlandês é um baita filmão, com 3 horas e meia, e talvez seja esse o seu maior pecado. Na verdade as pessoas nesse mundo de correria ficam um pouco impacientes com histórias que se alongam demais, muito embora seja muito interessante observar a lenta construção dos personagens num trabalho admirável de De Niro, Al Pacino e Joe Pesci. Mais um filme sobre a máfia, só que desta vez olhando um pouco mais fundo para os conflitos interiores de um “soldado” da organização criminosa que vai transformando o que sobra de humano numa eficiente máquina de realizar tarefas. Por ser longo e por Scorcese nunca ter pressa de contar uma história, a produção Netflix pode ser vista em casa, e cada um de nós pode fazer quantos intervalos quiser na hora que desejar.

Ford VS Ferrari não é um filme feito só para os apreciadores do automobilismo. Embora não tenha a força de Rush, que se ocupava da rivalidade entre Nikki Lauda e James Hunt, o filme de James Mangold traz os bastidores da maquina de triturar das grandes organizações. Christian Bale vive Ken Miles, um piloto apaixonado pela velocidade, um idealista até certo ponto ingênuo ao não perceber que era usado pela articulações mesquinhas de executivos sem caráter.

Dos nove filmes do OSCAR, os mais fracos, na opinião deste cinéfilo observador, são Adoráveis mulheres e Jojo Rabbit. O primeiro é a quarta refilmagem da famosa novela de Louisa May Ascott, cujas versões mais conhecidas são a de George Cukor com Katherine Hepburn de 1933, e a mais moderna, de Gillian Armstrong de 1994 com Susan Sarandon, Winona Ryder e Kirsten Dunst. Esta versão atual, dirigida pela bem intencionada Greta Gerwig, se perde ao espichar aquilo que é muito acessório em detrimento àquilo que seria mais essencial, o que acaba provocando uma falta de interesse. Plasticamente é bonito, mas falta sal. Revela boas atuações de Saoirse Ronan e Emma Watson. Finalmente, Jojo Rabbit é uma ótima idéia, a de uma criança em plena Alemanha nazista ter como amigo imaginário o próprio Adolf Hitler. No entanto falta um pouco de unidade no projeto ao se situar indeciso entre ser uma fantasia, uma comédia ou um drama de guerra. Tem ótimos momentos, mas é irregular principalmente nos momentos que Hitler (Taika Waititi, também diretor) aparece de forma caricata demais ficando num intervalo entre a piada e a sátira.

Agora é comprar a pipoca e tentar ver o que não viu ou rever o que gostou.

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