À reflexão, com proposta
- Sebastião Amoêdo
- Sep 11, 2018
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À reflexão, com proposta
Esta trata do Museu Nacional na ótica do CONSELHO DE MINERVA não apenas para o evidente – solidariedade com seu gestor Universidade Federal do Rio de Janeiro – mas para um pouco além: oferecer alguma contribuição, na forma de reflexão com proposta.
Quem fala de Minerva fala de Intervenção Estratégica já que – sabem os que se dedicam a Mitologia Greco Romana – a tal deusa não cobria apenas valores in abstrato (Sabedoria, Artes e Ciências) mas sobretudo a ação planejada para combater o bom combate a certo fim.
Propor implica não apenas objetivo, mas estratégia para atingi-lo.
Quem fala Minerva fala de sua estátua. Para ela (como da sua equivalente em Atenas – isto é a própria Athenas) se escolhe o lugar mais alto à vista de todos. Uma Acrópole como convém a povos que, uma vez empoderadas suas musas, não por acaso, chamam a casa delas de Museu - Μουσείοv (Mouseion).
Se no passado os museus foram criações de conservadores, depois geridas por liberais, hoje os museus de que precisamos têm a função de ajudar a manter um mínimo de amálgama de uma nacionalidade arranhada.
Dizem que durante uma guerra que ia mal para certo país invadido e desesperado com os seus generais discutindo táticas não estratégicas, o chefe de governo, um civil, explodiu:
- De estratégia cuidam agora os de paletó. Eu, os ministros e os deputados. A guerra se tornou um assunto sério demais para ser confiado apenas aos fardados.
Tomem-se exemplos longe e mais perto.
Tome-se logo aquele que fica no golfo da Finlândia no estuário do rio Neva. O maior museu em tamanho e acervo, o segundo em visitantes: O Hermitage, em São Petersburgo.
Tome-se seu pior momento. Foi quando imensos palácios com muito madeirame combustível do Século XVIII estiveram, de 1941 a 1943, sob fogo cerrado vindo do ar e vindo do mar e isso pelos três anos, tempo que a então Leningrado esteve sitiada. Quase nada se perdeu. Isso foi graças a um mutirão. Foram vizinhos do Museu – maioria composto de mulheres civis ou alistadas no Exército Vermelho – antes orientadas por técnicos, que protegeram seus acervos mais preciosos. Desde pinturas comercialmente valiosas, de grandes mestres, até simples exemplares da coleção de Botânica, criada ao tempo do czar Pedro e da Imperatriz Catarina, exibidas para adultos, ao mesmo tempo que ensinando às crianças a evolução da espiga de milho. Muitas das obras foram escondidas em porões particulares e devidamente restituídas tão logo anunciada a liberação de Leningrado.
Lá, como em museus em Lima (História do Feijão) Quito ou Cuzco (História da Quinoa), ou mais perto, Olinda e Recife (História da Cachaça), Tiradentes (Senhoras Sant’Anna) todos têm contribuição de moradores.
Lá já se compreende: museu é assunto importante demais para ficar apenas com seus gestores.
Mas não se pode achar que podemos tudo.
Dizem que em 660 aC os atenienses perguntaram ao sábio Solon:
- Qual a melhor lei do mundo? E ele respondeu.
- Primeiramente as primeiras coisas: digam-me antes, é lei para qual povo, em qual momento e para qual necessidade?
Tomem-nos como somos e como não somos: não nascemos em Leningrado, Quito. Não moramos numa Olinda ou Tiradentes.
A reconstrução do Museu Nacional passa pela comunidade, seja ela proletária, classe média ou burguesa.
Nesse sentido uma comparação é incontornável:
O fogo que irrompeu no casarão do Bairro Imperial de São Cristóvão não teve a chance de ter uma ajuda da burguesia, como teve, por exemplo, a Capela Imperial do Palácio Universitário na Av. Pasteur, cujo BO do incêndio menciona “que foi debelado usando água da piscina do vizinho Iate Clube (bem como sua motobomba, mangueiras e pessoal da Brigada do ICRJ) já que nem hidrantes próprios funcionaram, nem carros pipa do CBMRJ davam conta”.
Tomemos o tempo como ele o é.
A renovação começa por arregimentar a vizinhança, mostrando o que tem a ganhar.
Em assim sendo, os Antigos Alunos da Universidade do Brasil, atual UFRJ, por meio desta se apresentam, ao dispor.