Bergman, 100 anos
- Luciano Bastos, DP
- Aug 6, 2018
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Com 13 para 14 anos comecei a me interessar pelo cinema. Curtia ler as extensas críticas publicadas no Correio da Manhã, especialmente as escritas por Moniz Vianna. Mais tarde, já estudante universitário, passei a curtir apaixonadamente os filmes de John Ford muito influenciado pela devoção que o crítico tinha pelo cineasta de tantos faroestes clássicos.
Lembrei disso, pois foi com 14 anos que vi “Morangos Silvestres” do Bergman. Acho que era censurado para menores de 18 anos, mas só sei que consegui entrar. Confesso que pouco entendi daquela estética tão cheia de simbolismos, de lembranças e de sonhos. Mas mesmo sem entender muitos daqueles significados, aquelas imagens me impactaram e emocionaram, e no fundo eu começava a perceber que aquilo ali que se passava na tela era intenso e profundo. A arte é assim, aos poucos você aprende a dialogar com ela. Da mesma safra dos cinemas do Posto 6, lembro que vi também “Meu Tio” (Mon oncle) de Jacques Tati, uma comédia deliciosa com uma linguagem absolutamente nova apoiada naquele personagem que quase não fala, mas se comunica com a curiosidade que tem em experimentar as futilidades da modernidade na casa dos seus parentes.
Essa comédia de Tati e o drama de Bergman foram experiências inesquecíveis de entrar em contato com um cinema de autor, e são filmes até hoje cultuados por todos aqueles que mergulham na história do cinema. Bergman fez tantos filmes na sua carreira e tantas obras primas que o documentário em cartaz “Bergman - 100 anos” procura não só lembrar das fases, mas das inspirações e da ousadia do mestre. O documento de 120 minutos dirigido e organizado por Jane Magnusson é um programa imperdível para aqueles que vieram ao longo de mais de cinquenta anos sendo tocados pela obra daquele que fez “Sonata de outono”, “O sétimo selo”, “Gritos e sussurros”, “A fonte da donzela”, “Persona”, “Fanny e Alexandre” entre outros. Ninguém conseguiu penetrar tão fundo na alma humana como o sueco genial. O documentário serve como aperitivo para rever vários títulos do cineasta que estão disponíveis nas prateleiras das Travessas e Culturas da vida. E aí é só se reencontrar e matar a saudade de Liv Ullman, Bibi Andersson, Ingrid Thulin, Max Von Sidow, Victor Sjonstron e certamente fazer novas descobertas, novas sutilezas que são sempre possíveis na releitura do autor.
Cineastas como Kubrick, Ford, Kurosawa, Tati, De Sica, Welles e, sobretudo, Bergman serão sempre lembrados e sempre influenciarão a outros cineastas que pretendam dar uma contribuição efetiva para a sublime e mágica arte descoberta pelos irmãos Lumière.