Fake News
- Reportagem de Gabriel Lopes
- Jul 1, 2018
- 4 min read
Instituições e eleitores se preparam para o impacto das fake news nas eleições de 2018

Provavelmente você já ouviu falar sobre uma lei que cancela a carteira de motorista vencida após 30 dias, ou já recebeu um alerta pelo WhatsApp sobre multa para quem perdeu o prazo de cadastramento biométrico para votar em 2018. Se sim, você foi alvo de fake news. Essas foram algumas das muitas que circularam e causaram alvoroço este ano. Espalhando-se rapidamente pelas redes sociais, as fake news já se tornaram constantes na internet e identificá-las, às vezes, pode ser bem complicado.
Com a chegada das eleições, a chuva de notícias falsas vem aumentando e trazendo consequências tanto para a decisão de voto da população, quanto para os políticos brasileiros. Só em 2017, 12 milhões de pessoas compartilharam fake news no Brasil, segundo levantamento do grupo de pesquisa de Políticas Públicas Para o Acesso à Informação da Universidade de São Paulo (USP). Eles analisaram e monitoraram mais de 500 páginas digitais de conteúdo político falso ou distorcido que mostram que esse tipo de matéria pode ter muito alcance, dependendo do número de usuários que acompanham a página.
Quem está atenta às fontes de informações sobre candidatos é a estudante de Direito Isabela Ventura, de 21 anos. A jovem consome conteúdo por meio das redes sociais, sobretudo no Twitter. Ela explica como percebe a confiabilidade do que lê. “Eu avalio o histórico do grupo que está veiculando. Se ele é atrelado a algum grupo político, se a construção do texto não é muito tendenciosa, se já divulgaram informação manifestamente falsa, essas coisas”.
Esse cuidado de Isabela é essencial para não cair em armadilhas que ferem a democracia. Assim como no Brasil em período de ano eleitoral, as eleições presidenciais dos Estados Unidos e da França também sofreram devido à grande quantidade de cliques em notícias falsas, causando impacto na decisão dos eleitores no momento da escolha.
O atual cenário político brasileiro tem diversos casos de corrupção envolvendo partidos políticos, que se tornam alvos fáceis de proliferações de notícias falsas. É preciso muito jogo de cintura para convencer o eleitor do contrário. O Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), órgão do Poder Judiciário responsável pelo controle e fiscalização de todo o processo eleitoral, tem a missão de investigar e controlar as mensagens propagadas durante o período eleitoral.
A atuação do tribunal no quesito fake news vem da gestão do desembargador Carlos Passos em contribuição com parcerias institucionais com órgãos de inteligência, para que possa ser realizado um trabalho preventivo. Assessora de imprensa do TRE Luciana Batista esclarece o que tem sido feito pela Justiça. “É importante ressaltar que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) possui um grupo específico que cuida desse tema e promove ações que geram impacto na atuação dos TREs, facilitando nosso trabalho na identificação de situações que possam trazer desequilíbrio nas eleições deste ano”.
E é possível ver os órgãos públicos responsáveis tomando atitudes contra a propagação de notícias falsas. Em um movimento inédito, a Justiça brasileira fez seu primeiro movimento para a não propagação desses tipos de notícias: vai remover imediatamente notícias falsas que viralizarem e que tenham objetivo de difamar quaisquer pessoas, de acordo com Luiz Fux, presidente do TRE e Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Além desta ação anunciada pelo judiciário para retirar notícias que tenham cunho difamatório ou que favoreçam alguém, o Senado brasileiro também anda trabalhando para regulamentar a propagação de fake news como crime. Um projeto de lei de 2017 altera o decreto-lei nº 2.848 da Constituição, acrescentando que a divulgação de fake news que distorçam, alterem ou corrompam a verdade sobre informações relacionadas à saúde, à segurança pública, à economia nacional, ao processo eleitoral ou que firam o interesse público, pode levar o divulgador a pegar até dois anos de cadeia e ao pagamento de multa.
Entretanto, para a estudante de direito Isabela, isso é insuficiente. “Eu acho que o judiciário e o legislativo não fazem nada, na verdade. Existem certos grupos políticos que se vinculam a agências de comunicação para espalhar mentiras sobre a oposição. Todo mundo sabe disso, mas ninguém fala sobre, porque são instituições formadas por quem também se beneficia disso”. Ela também acredita que essas notícias falsas podem ser decisivas para as eleições de 2018. “O caso das últimas eleições presidenciais nos EUA com a Cambridge Analytics é um exemplo claro de que isso acontece”, lembra.
Diferentemente da estudante, que relata nunca ter sido vítima de fake news, a analista judiciária Regina D'Arienzo caiu. Ela compartilhou uma matéria que mostrava uma lista de deputados corruptos, alertando os eleitores sobre quem não deveria receber voto. “Mas depois que eu repassei a mensagem fui checar e vi que tinha gente que nem era mais deputado ou tinha envolvimento com cargo político e estava ali. Depois daquilo senti muita vergonha e passei a checar esses tipos de mensagem antes de repassar. É importante alertar sobre isso”.
Para além das leis, a tecnologia também pode ser uma grande aliada no combate ao conteúdo falso. A assessora Luciana explica que a antecipação dos acontecimentos é primordial para combater os casos de propagação de notícias sensacionalistas. "Por exemplo, há alguns anos o tema de spams teve grande relevo nos debates sobre propaganda irregular, contudo, com as ferramentas que o próprio avanço tecnológico gerou, essas mensagens indesejadas já não são um risco para o processo eleitoral", pontua a assessora.
Contudo, a expressão do ano é fake news. Para além da responsabilidade midiática e institucional, inúmeros eleitores que vão exercer seu direito ao voto, neste ano, também têm um papel nisso. Dar atenção aos debates que frequentemente abordam as pautas da vez e analisar bem o que aparece na timeline da rede social faz com que o cidadão enriqueça seu conhecimento e tenha o hábito de checar as informações antes de compartilhá-las.