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Direito ao equilíbrio

  • Luís Eduardo P. Basto
  • Apr 26, 2018
  • 2 min read

- Você é equilibrado demais! Costumava receber estas palavras como elogio, quando outros tombavam sob a pressão e eu conseguia manter o controle. Mas o tom do meu colega de trabalho não deixa dúvidas. Ele acha que eu deveria ter partido a cara – figurada ou literalmente – do nosso interlocutor na reunião. Não faltariam justificativas para a violência. Afinal, a reunião era com um fornecedor interno. Aquele ser desprezível que cobra caro pelo favor de entregar algo diferente do que pedimos num prazo maior do que esperávamos. Bem, agendamos novo encontro para a próxima semana, quando ele prometeu com certeza uma solução para os problemas criados pela incompetência dele. Mal o fornecedor se afasta, sorrio com todo aquele absurdo. Felizmente, consigo esconder o sorriso antes que meu indignado colega veja. Ele não compreenderia. Considero meu colega de trabalho bastante razoável. O problema é que hoje existe uma expectativa clara: você deve estar pronto para a briga ao primeiro sinal de divergência. Seja com quem for. Não importa o motivo. Nem se você tem razão. Se, depois de reagir, perceber que não compreendeu corretamente a situação ou que infelizmente cometeu uma injustiça, espera-se que entendam. Afinal, você luta por aquilo em que acredita. No meu tempo – o que talvez prove somente que sou velho – se chamava isto de agir sem pensar. E quem se comportava deste modo era simplesmente um mal educado. Não se enganem. Tenho meus momentos de fúria. Alguns dos quais me arrependo. De quase todos, acho graça no dia seguinte. O que defendo é o meu direito ao equilíbrio. Quero poder imaginar o que está por trás das palavras do outro, as razões que me levam a querer esganá-lo, o custo e as consequências da violência. Diante da uma situação de potencial atrito, em vez de porrada, minha primeira reação costuma ser a ironia. Isto me dá tempo para pensar. Quem só quer brigar demora a entender uma ironia. Este processo de avaliação pode ser confundido com apatia? Talvez. Afinal, equilíbrio é um estado em que as forças contrárias se anulam. Ninguém deve ser obrigado a subir no ringue apenas porque outro está lá. Ainda que ele faça o convite. Se te chamar de covarde, ache graça. Equilíbrio não é evitar sempre a violência. Equilíbrio é compreender que a violência não é o único – e, na maior parte das vezes, nem é o melhor – meio de resolver um conflito. Devemos escolher as nossas lutas, nunca sermos escolhidos. A seleção aumenta as nossas chances de vitória ou, no mínimo, valoriza as nossas derrotas. Sim, às vezes devemos brigar mesmo sabendo que iremos perder, porque algo mais importante está em jogo.

Mas isto já é outra história.

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