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Cinema no Exílio

  • Luciano Bastos, DP
  • Apr 24, 2018
  • 2 min read

Jack Nicholson em Um estranho no ninho.

Os regimes totalitários, ao suprimirem a liberdade de expressão, estabelecem uma doutrina de inarredável certeza, de valores que não podem ser questionados. É assim também com alguns indivíduos muito desagradáveis e arrogantes que não hesitam em proclamar certezas absolutas sobre assuntos complexos, como se o mundo das ideias fosse composto de apenas uma célula. Por isso, prefiro ser cartesiano e apoiar minhas especulações na dúvida. Foi a dúvida, a curiosidade e o debate das propostas que criaram o escopo civilizatório que hoje temos. Na verdade, essa pequena introdução é só para, aproveitando o lançamento do livro Exil Et Musique do francês Étienne Barilier mostrando compositores que tiveram que abandonar suas terra natais em função de governos totalitários (nazistas, stalinistas, franquistas) para poderem construir livremente as suas obras, e fazer um paralelo com o mundo do cinema. Assim como na música, também no cinema aconteceram migrações por motivos políticos. O recém falecido Milos Forman é um caso. Tcheco de nascimento, Forman se manda de seu país quando a finada União Soviética colocou seus tanques opressivos em Praga para abafar as ideias oxigenadas do pensamento moderno e conter a desobediência ao regime da cortina de ferro. Foi para a América e lá fez filmes inesquecíveis como Um estranho no ninho e Amadeus.

Se Forman fugiu dos tanques soviéticos, Billy Wilder, judeu austríaco, fugiu da Alemanha quando começou a perceber que a política de Hitler incluía uma perseguição implacável aos filhos de Israel. Na América, Wilder fez mais de uma dezena de obras primas como Crepúsculo dos deuses, Farrapo Humano, Quanto mais quente melhor, Inferno 17, entre muitos outros. Fritz Lang, alemão genuíno, também saiu do seu país por conta do nazismo. Quando Goebbels ofereceu a ele a missão de produzir documentários de propaganda do partido e que a sua posição de recusar o convite poderia ser retaliada, percebeu que estava na hora de respirar outros ares onde reina a liberdade. Depois de um estágio em Paris, Lang foi para a América. Mas no seu caso, a nata de sua obra está no seu período germânico, anterior ao III Reich. São apenas exemplos de como a criação artística, seja ela na poesia, na prosa, na música, no cinema e nas artes plásticas só sobrevivem com o sopro da liberdade. Hitler mandou fazer fogueiras de livros inconvenientes e chamava de arte degenerada algo que questionasse suas convicções. A nomenclatura totalitária é um inibidor de apetite do artista. Aqui no Brasil, durante o período militar muitos músicos tiveram que usar seus passaportes para não terem que se submeter ao grilhão da censura. Estranho é que ainda existam grupos que se intitulam progressistas, desejando uma imprensa acuada a serviço dos interesses de uma ideia única e obstinada. Ainda bem que não tiveram força para isso.

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