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O mecanismo da reserva de mercado

  • Sérgio Bandeira de Mello, Gico
  • Apr 5, 2018
  • 2 min read

Só para ficar no âmbito da categoria à qual pertenço, a dos engenheiros, cujos sindicatos espalhados pelo país agora são obrigados a viver sem o conforto do imposto sindical, um abaixo assinado sobre a ampliação da magérrima fatia atualmente destinada à infraestrutura seria mais que natural.

A reboque dessa hipotética manifestação pública viriam os CREA da vida, bem como a grande leva das associações de classe, do petróleo à construção pesada, da indústria eletroeletrônica à construção civil.

Olhando-se pelo prisma da aplicação dos impostos, com foco na parcela orçamentária voltada prioritariamente à habitação e ao saneamento básico, todos nós adoraríamos a firme retomada do desenvolvimento. Apoiaríamos abertamente, sem motivos subjacentes, maciços e perenes investimentos em infraestrutura urbana, sinônimo, em última análise, de melhoria da saúde física e mental da população. Esta chegaria pela via direta do incremento da qualidade de vida, seja, por exemplo, por meio da universalização do tratamento de esgoto, seja pela expansão das linhas de metrô.

Já pela abertura da política de concessões ao capital privado, os engenheiros só teriam a ganhar com novas barragens, usinas, ampliação e a conservação das malhas ferroviária, rodoviária, portuária, aeroportuária etc.

Embora aposentado, e compulsoriamente garfado pelos algozes da Petrobras e do seu fundo de pensão pelos próximos 18 anos, isso se não morrer antes, torço para que as obras voltem, mas que nos seus respectivos canteiros cresçam as esperanças de orçamentos justos, sem superfaturamentos e aditivos negociados de antemão pelos cartéis, ora desbaratados.

Entretanto, seus beneficiários ainda estão vivos, muito vivos, e unidos. Unidos contra a Lava-jato, pelo estancamento da sangria, seja pela boca grampeada de Jucá, seja pela língua presa de Lula, que seguirá solto por força desleal do mecanismo.

A entrega do abaixo assinado dos advogados pela não aplicação da pena até o trânsito em julgado mostra bem a quem interessa a liberdade dos criminosos. As palavras do defensor de Maluf, Sarney, Lobão, Joesley, entre outros ricaços, mostram que a prescrição do crime - e não a presunção de inocência -, encerra o objetivo maior do movimento, na verdade a constituição de uma sólida reserva de mercado dos escritórios que orbitam os tribunais superiores.

Não por acaso a OAB endossa a falácia onde reside o verdadeiro mecanismo: o campo para criminalistas medalhões, uma classe em franca expansão, sobretudo depois da virtual queda da prisão após a segunda instância.

Data vênia, florescerão ainda mais os casos de indiretas apropriações indébitas, absolutamente limpas, lavadas pela sagrada via dos exorbitantes honorários advocatícios.

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