Boulos de noiva
- Sérgio Bandeira de Mello, Gico
- Mar 5, 2018
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Quem casa quer casa, diz o ditado. Procurando por um novo teto, não é que o bom partido, essencialmente carioca, foi encontrar logo um paulista solteirão sem o dito cujo! Sim, pois parece que o PSOL resolveu desencalhar. Melhor dizendo, optou por oficializar a relação. Logo ele, tão saidinho, tão moderno, tão independente.
Eleição sem Lula é fraude – costumava berrar no palanque móvel esse tal de Bolulos, líder do MTST, movimento dos trabalhadores sem teto. Ou sem triplex, portanto sem três tetos de uma vez. Isso sem falar do sítio e do duplex imperialista do ABC, invasão companheira que avançou para o vizinho de porta com um fantasioso aluguel amigo, cujos extemporâneos recibos de quitação eram tão inexistentes quanto determinados dias de vencimento. Mas venceu o amor filial.
E agora, José - incluído o Dirceu? E agora, Boulos? Vão encarar a fraude primaveril? Pois tudo indica que um ilustre desconhecido de suas bases foi seduzido pela direção do PSOL, o partido da utopia juvenil, na verdade um paradoxo, desde que se vende como a legenda do socialismo concomitante à liberdade.
Seria um PSOL da meia-noite, apimentado com o marketing da Islândia aqui, em vez do Havaí ou do Haiti, presente na voz do Caetano recriado pela vida conjugal com a singular empresária avessa ao lucro alheio?
Procure saber, mas não se esqueça do cartão de crédito para bancar aqueles que pretendem cantar na cerimônia. Já para a festa em si, programada para 7 de outubro, serve a vaquinha em espécie, crowdfunding na língua local.
Por ora, Boulos, nos braços de Lula, já entra para ocupar a janelinha de onde a maioria voltará a suspirar pelo PT. Com ciúmes da outra linha auxiliar, que lançará a bela Manuela, o novo barbudo retorna à fantasia do velho príncipe que soube encantar até como o sapo de Brizola, agora beijado pela princesa gaúcha, e não pela conterrânea bruxa, sempre apegada às convenções.
Portanto, na minha modesta opinião de leigo, mais fácil de colar seria a mensagem de que eleição sem Lula é Freud.
Só o pai da psicanálise poderia explicar o retorno do filho à mãe petista, depois do inconsolável chororô do mensalão. Foi lá, em uma sessão histórica da CPI dos Correios, com o historiador Chico Alencar à frente, que testemunhamos os militantes virgens de dinheiro sujo às lágrimas, todos perdidos no puteiro público subitamente instalado por Duda Mendonça.
Desse fato, a despeito de juras de ignorância e promessas de refundação, surgiria a nova agremiação partidária de esquerda, disposta a não compactuar com o pragmatismo corrupto individual ou coletivo do PT. Só que não.
Se no estelionato eleitoral que caracterizou a reeleição de Dilma o partido já mostrava sinais inequívocos de que gostaria de voltar ao convívio íntimo com a permissiva casa materna, e a participação no processo de impeachment só corroboraria esse flagrante sentimento de aversão à orfandade, o lançamento da candidatura independente de Boulos com o aval de Lula amplia ainda mais a sensação de que o complexo de Édipo ainda não foi resolvido.
Para tanto, faltaria matar o pai, coisa muito difícil para os donzelos casadoiros que sonham com os bem casados e o Boulos de noiva, coisas explicáveis pela revolucionária ideologia de gênero. Mas, por outro lado do cordão umbilical, poderiam matar o velho de orgulho.