O céu é o limite
- Sérgio Bandeira de Mello, Gico.
- Feb 5, 2018
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A chamada principal da página 6 do Globo de 3 de fevereiro dá a explicação de Moro: “auxílio-moradia compensa falta de reajuste desde 2015”.
Até aí, tudo bem, ou melhor, tudo mal, porém apenas salienta uma justificativa tosca e reprovável para o absurdo penduricalho, coisa com que convivemos desde a trágica mudança da capital para Brasília.
Mas aí vem o lead, lide ou manchete secundária, como queiram, destaque mais absurdo ainda: “Juiz da Lava-jato em Curitiba recebe o benefício de R$ 4.377 mesmo vivendo em apartamento próprio”.
Ora, ora, para o jornal, a questão seria resolvida com a negociação do apartamento. Com o produto da venda, qualquer juiz agraciado com o mimo legal poderia botar o dinheiro para render na poupança ou letra de tesouro e ficar sem remorsos de qualquer ordem, sobretudo a OAB, com a expressiva benesse corporativa.
O casal Bretas apenas amplificou o esdrúxulo favorecimento legal. Pela isonomia, palavra mágica do funcionalismo, que faz crescer o olho alheio, quem faria jus ao benefício? Melhor seria a seria a separação de direito, não de fato, para não suscitar um imbróglio de gênero.
Portanto, o problema da moradia, própria ou não, reside no salário indireto, ainda melhor por se entender não tributável, porquanto indenização. Isso, naturalmente, segundo os julgadores, aqui também defensores e intérpretes de suas próprias questões.
Destarte, em nome da ética, todo o poder judiciário deveria se dar como impedido para a apreciação da matéria, aliás, em tudo que se refere a teto do funcionalismo.
O mecanismo é sabidamente retrátil, abre ao sabor das leis, encomendadas sob medida, como paletós; por sinal, título de outro auxílio coberto pelas togas.
Contudo, como julgar em termos processuais se há um flagrante impedimento coletivo? Pois aí vai a minha cívica contribuição.
A irregularidade seria assinalada pelo árbitro de vídeo, com a imprensa apresentando os lances por todos os ângulos para atingir cada eleitor. Diretas para o Supremo, com 8 anos de mandato, poder que, em última análise – ou instância – nos governa de forma vitalícia.
Dessa forma, seria impossível que seguissem saindo da figura A para a figura B, como nos ensinou o mestre do apito, Mário Vianna com dois enes, o Ruy Barbosa dos gramados. Vigiaríamos tudo de fora das quatro linhas.
Entretanto, como sempre, o corporativismo há de falar mais alto. Se não ouvirem, baterão o martelo para exigir silêncio.
Porém, a despeito da desesperança nos veredictos que vêm pela proa, para começarmos a exigir um pouco mais de compostura na indiscriminada gastança de nossos impostos, seria de bom alvitre que os argumentos da imprensa fossem um pouco mais elaborados.
Do contrário, sem controle externo do Judiciário, com o nosso teto basculante e complacente, o céu seguirá sendo o limite.