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O que vem por aí

  • Sérgio Bandeira de Mello - Gico
  • Jan 16, 2018
  • 4 min read

Com toda carga simbólica xenófoba que levou os mais céticos republicanos a apoiarem a promessa sabidamente vã, situação que concorreria para a falta de cobrança futura, o muro do Trump jamais seria erguido no Brasil, e não por falta de pedra, areia, cimento e água.

O concreto é que o bipartidarismo de fato nos States ajudaria o muro faraônico a ficar de pé, tão sólido como o topete do faraó, no caso armado, laquê no lugar do aço.

Já por aqui, a fidelidade a qualquer plataforma de campanha é impossível. Por mais disposição que um governo novinho em folha tenha para implantar o que defendeu no gogó, o peixe vendido não demoraria a feder.

Resumindo a história, a ser indefinidamente repetida se mantidas as bases atuais, o estelionato eleitoral por estas bandas é inevitável.

Por mais subjetivo que o problema possa parecer a priori, a princípio mais um prato cheio para os nossos empanturrados advogados, o crime de responsabilidade deveria abranger o cinismo em campanha nas eleições majoritárias. As utopias seriam permitidas apenas às crianças menores de 35 anos que militam à luz do PSOL.

Tal e qual um carimbo do Ministério da Saúde advertindo para os males do cigarro, porém com o impacto das horrorosas fotos dos doentes terminais desenganados, o Tribunal Superior Eleitoral deveria fiscalizar cada candidato a presidente.

E marcar em cima, como um bom volante de contenção, o comício urbano e o programa de tevê de cada um. Nos grotões, esse carrapato cívico viria não da fiscalização formal dos palanques, mas dos celulares rivais, por meio de mensagens instantâneas, sem edições possíveis.

Obeso de passagens, paquidérmico de diárias e pantagruélico de auxílios - refeição, transporte, saúde, paletó -, além de ajudas menores disso, daquilo e daquilo outro, o fiscal do TSE podia ficar em Brasília preso a uma televisão das antigas, sem Now, Netflix ou Première curtindo o programa eleitoral pseudogratuito, mais caro do que nunca.

Caberia a ele verificar se o discurso de X, Y ou Z começaria e terminaria com as obrigatórias palavras: - (Companheiros, Brasileiras e brasileiros, Minhas amigas e meus amigos, Povo sofrido do meu Brasil), sei que não vai pra fazer nada se vocês não votarem no meu partido também, mas, se obtiver maioria no Congresso, prometo...

Por retrocesso jurídico, regressivo absurdo, imaginem o Nove Dedos, a oito dias contados dos supostos sete palmos políticos, a seis meses da convenção dos cinco partidos que o apoiariam para quatro anos de poder se os três juízes não o absolverem por dois a um, no mínimo. Que máximo do surrealismo latino-americano! Que próspero exemplo de realismo fantástico não ficcional!

Em plena lua de mel com o eleitorado, cheio de medidas provisórias por tomar, o novo velho presidente teria de comprar um renovado congresso, com quatro anos inteirinhos de foro privilegiado no Supremo. A barganha, normalmente, deveria vir de fisiologismo, muito demorado, sobretudo em tempos de déficits orçamentários. Portanto, o normal seria o pagamento em espécie, com sobras de campanha, em malas Geddel ou Loures, tradicionais ou de rodinhas. Mas que sobras, além dos fundos partidário e eleitoral?

Com as construtoras na berlinda, as agências de propaganda poderiam voltar à ribalta, reinstituindo o Mensalão, coisa que jamais existiu para o deus petista.

Se Lula é o voto preferido de muitos que se identificam com a carismática figura sem escrúpulos, seria também o PT o partido dessa turma que não vê maiores diferenças entre um corrupto e outro, e vota no mais simpático?

Fato é que o Brasil está gastando as suas últimas economias, por possuir um regime presidencialista de cooptação ou corrupção que imobiliza a si mesmo, que impede o qualquer governo de governar, o produtor de produzir e o potencial empregador de empregar.

Para complicar a guerra, batalhas caríssimas são diariamente travadas nos tribunais abarrotados, empacados em todas as instâncias, sobretudo na máxima. Pra piorar um pouco mais, o ministério público arvora-se a se meter e interromper tudo, do meio ambiente ao futebol. Não é à toa que a criançada só quer estudar Direito, e não direito.

Portanto, na hipótese da ruína completa, a de Lula voltar, a situação de 2019 seria infinitamente pior que a de 2003. Sem a carta ao povo brasileiro, como agregar sua base de apoio?

Como angariar votos para suas reformas, se não da previdência, necessária, que ele mesmo já quis e agora cinicamente boicota, a dos meios de comunicação, a tal democratização da mídia, eufemismo para censura, imperiosa para o PT e demais partidos satélites?

Sem ela, como a esquerda nos levará ao sonho venezuelano? Como a Petrobras retomará o rumo bolivariano da PDVSA?

Se o eleitor de uma maneira geral vota no cargo majoritário em quem tem mais simpatia ou identificação, corrupto, mas carismático, versão moderna do rouba, mas faz dos tempos de Getúlio e Adhemar, duvido que o cidadão vote no PT. Vai, sim, votar nos deputados indicados pelos caciques do MDB, que voltou a ser um movimento, que inclui o de seus currais eleitorais até as urnas no dia 7 de outubro. Renan, Jucá, Sarney, Barbalho e Eunício agradecem, penhorados. Principalmente a aversão crescente da população pelo PT, agora com menos imposto sindical para eleger seus representantes.

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