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Foi um Rio que passou em minha vida

  • Sérgio Bandeira de Mello, Gico
  • Jan 3, 2018
  • 2 min read

Se meu coração for consultado, para saber se andou errado no segundo turno de 2016, no Rio de Janeiro, com a cidade entregue às baratas e o prefeito pelo mundo afora cuidando das pessoas erradas, da família ou do rebanho universal, será difícil negar.

Não sei em quem o grande Paulinho da Viola votou para prefeito, inclusive porque o rio dele não era de janeiro, mas de fevereiro; até porque o seu rio era relativamente minúsculo. Só na letra, é claro, pois carregava a cor portelense, mais forte que o céu, longe do mar, azul de Madureira e Campinho, nada de azul marinho, rio que nascia e desaguava em outra avenida, perpendicular à Sapucaí sem apoteose.

Se o mestre votou em Crivella ou Freixo, é o que menos importa. Importa, sim, a atmosfera reinante no Rio que passou em minha vida no ano retrasado.

Mesmo com o prefeito na Disney ou em Jerusalém, Joanesburgo ou Amsterdã, Dubai ou Moscou, eu assumo que votei nulo e não me arrependo.

Ainda que com o coração apertado, todo corpo tomado de revolta, o cérebro me lembra que o adversário do pastor era Freixo. Daí que o órgão da razão é capaz de me assegurar pelo menos uma conclusão: a de que os funcionários públicos municipais estariam no paraíso, não o criacionista em que se cria o rival eleito, não com uma sumária folha de parreira, mas com uma estratosférica folha de pagamentos.

É em tal catecismo calcado no diário oficial que se apruma essa espécie de religião do PSOL, partido que saiu da costela do PT para apoiar o mesmo corporativismo barnabé, federal, estadual ou municipal. Tornaram-se aliados de ocasião, muitas ocasiões, éticas à parte, repetição à esquerda do que já ocorrera entre tucanos e o PMDB.

O memorável comício da vitória entre aspas que levaria Freixo à derrota, “essa cidade é nossa”, público ato falho na Lapa tomada pela militância, foi a expressão do que seria o seu governo, o anúncio do plano, a admitida seleção das pessoas que cuidaria.

Fato é que, ao fim do primeiro turno, a grande maioria do povo carioca viu-se destituída de uma opção palatável, menos pior que as duas candidaturas finalistas.

Escrevo este artigo porque o tempo está passando, o carnaval já vem aí, a semana santa idem, e nada acontece para nos livrar, a nível nacional, do recente dilema carioca, inverso político da escolha de Sofia.

As desincompatibilizações e janelas eleitorais se aproximam e nada sai da pasmaceira atual, pseudoextrema esquerda corrupta versus extrema direita estatizante, polos opostos com uma avenida no centro, desocupada, longe como nunca da apoteose.

A comparação pura e simples com o pulverizado pleito presidencial de 1989 não procede, pois aquela eleição foi solteira, sem puxadores nos legislativos e nos governos estaduais. Naquela ocasião, além dos finalistas Collor e Lula, havia Brizola, Covas, Maluf, Caiado, Ulysses, Aureliano, Roberto Freire e mais alguns gatos pingados menos votados.

Hoje, além de Lula ou respectivo poste e Bolsonaro, que torcem e investem na polarização bancada pela grande imprensa, aqui do meu canto, só vejo um Rio que passou em minha vida, que de azul não tem nada, muito menos a consagrada metáfora.

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