Metamorfose Ambulante
- Sérgio Bandeira de Mello, Gico
- Dec 5, 2017
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Entre a Metamorfose de Kafka e a Ambulante de Raul Seixas, figura incorporada por Lula na carta ao povo brasileiro, documento escrito a quatro mãos pelos traidores do Nove Dedos, Duda Mendonça e Palocci, ainda deve ser reservada uma Boa Ideia para o Santo.
E nem vai aqui qualquer tipo de alusão sub-reptícia à célebre caninha 51, ligada visceralmente ao fígado do carismático líder de massas de manobra, mas sim a outra cachaça, metafórica, a que nos traz o sentido líquido de vício.
Afinal, como bem definiu o nobre francês La Rochefoucald, antes mesmo da chegada do cavaleiro da legião de honra Cabral para conquistar Paris com capacetes de linho egípcio, a hipocrisia é uma homenagem que o vício presta à virtude.
E, como nos ensinou o papa da hipocrisia moderna, ainda está para nascer uma alma mais honesta do que a desse reverenciado reverendíssimo temático.
Pois uma análise isenta da situação do País nos remete a um quadro particularmente preocupante, porquanto quase tudo do mundo político passa pelo crivo jurídico de um persistente e monocrático Supremo.
A situação revela-se ainda mais grave no tocante ao fornecimento de habeas corpus para a figura de insetos invertebrados, em especial a repugnante Barata, cuja estatura humanoide deve causar ainda mais medo ao ilustre padrinho togado, chegado à família, em caso similar ao alegórico drama concebido e narrado pelo autor nascido em Praga.
E por falar em praga, no caso de Lula ser efetivamente condenado em segunda instância antes da natural aclamação de praxe, Kafka nos mostra o caminho contra a ação fulminante do covarde inseticida judiciário.
Para tanto, bastará que a metamorfose ambulante repita a façanha do personagem Gregor Samsa, caixeiro viajante como Lula e suas caravanas arrecadadoras, e se transforme em Barata.
Nesse exato momento, a metamorfose ambulante subirá para a instância suprema, a cargo de Gilmar, que avocará para si O Processo, mas esse já é outro drama do genial escritor, inspirado no terror da burocracia. O importante é que o ministro soltará Barata pela enésima vez, talvez sem saber que, a pedido da burocracia, tocará o terror, tocará Raul.