Culpa, minha máxima culpa
- Luís Eduardo P. Basto
- Nov 29, 2017
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Somos culpados por tudo que acontece conosco. Até tiro pelas costas. O pensamento pode ser acusado de mau gosto em tempos de tantas balas perdidas. Mas seu aparente exagero já me salvou e pode também salvar meus sofridos conterrâneos deste Rio de Janeiro. Salvar-nos de algo ainda pior do que a vergonha, a ruína econômica, a violência, a destruição de instituições, a falsa finesse destes malandros de terceira categoria. Salvar-nos do risco de afundarmos na areia movediça da autopiedade. Quando as coisas realmente não vão bem, quando um revés é apenas o anúncio de que o seguinte e maior está por vir, é normal se acreditar vítima dos acontecimentos. Você se sente triste, deprimido, sem disposição para reagir. Qualquer coisa que faça será inútil, pois tudo está definitivamente contra você. A culpa é dos outros. Para buscar alívio, você começa a sentir pena de si mesmo. Não percebe que a autopiedade é uma prisão. Ela protege dos perigos lá de fora. Mas não deixará você sair. Até que um dia você passará a aceitar como natural que é vítima e deve sofrer por isto. Vejo escrito no rosto das pessoas o que eles fizeram conosco? Nas redes sociais, o desencanto mesclado com golfadas de prazer a cada desventura deles. Rimos das suas desgraças para esquecermos das nossas. Permanecemos dependentes deles. Precisamos romper o círculo vicioso que dá todo o poder a eles. Assumir a responsabilidade. A culpa não é dos sérgios, jorges, paulos. Eles devem pagar por seus crimes, mas a culpa é sua, nossa. Nós permitimos que eles e suas mãos ligeiras se apropriassem de nossa esperança. Pelo voto, pela omissão, pela impotência, pela incompetência. Não há como esconder. No primeiro momento, a dor aumentará. Entender que somos culpados por tudo que ocorre na nossa vida é o fundo do poço. Porém, nos livrará das desculpas e nos devolverá o poder de definir o nosso destino. Quem escolhe o seu caminho nunca mais pode dizer que é vítima. Aconteça o que acontecer, nós nos colocamos lá. Seremos sempre os únicos responsáveis pelos sucessos e fracassos, pela felicidade e pela tristeza. Não dependemos dos outros. A culpa é toda nossa. Ainda bem.