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Um bom momento do cinema brasileiro

  • Luciano Bastos, DP
  • Nov 15, 2017
  • 2 min read

No intenso agora. Divulgação

Há muito tempo não se via tantos filmes brasileiros de excelente qualidade em cartaz. Nos últimos anos o número de títulos vem-se multiplicando e com sensível melhora na qualidade das produções. Segue o comentário de quatro que estão em cartaz no momento: BINGO, O REI DAS MANHÃS atinge uma grande força dramática baseada na história real do palhaço Arlindo Barreto que, ocultado na máscara de clown, não consegue atrair reconhecimento usando a sua própria face. O filme é dirigido por Daniel Rezende e tem no elenco além de Vladimir Brichta no papel central, Leandra Leal, cada vez mais versátil e Domingos Montagner, recentemente falecido tragado pelas águas do velho Chico. GABRIEL E A MONTANHA também se baseia numa história real, onde o protagonista resolve partir para uma viagem longa e profunda pela África, mergulhando nas culturas locais, fazendo amizades, descobrindo novas formas de sobrevivência. O desfecho trágico não subtrai a poesia que salta aos olhos durante toda a narrativa da intensíssima aventura. João Pedro Zappa está perfeito no papel de Gabriel e Carolina Abras empresta um charme singelo ao personagem da namorada do protagonista. O resto do elenco é composto por personagens reais que compartilharam da aventura do jovem Gabriel, o que ajuda a emprestar não só autenticidade como também uma legítima emoção. João Moreira Salles traz um belo documento histórico em NO INTENSO AGORA com um olhar atento sobre o forte e emblemático movimento estudantil de maio de 1968 em Paris, a invasão da Tchecoslováquia de Dubcek pelas tropas soviéticas que sufocaram o sopro renovador, a morte do estudante brasileiro Edson Luis nas manifestações de 68 e um retrato da China de Mao Tse Tung. As imagens filmadas por Elisa Salles, mãe de João em super-8 na China é boa parte do conteúdo do longa metragem, sublinhado por um texto escrito e lido pelo cineasta sem paixões exageradas e com um forte carinho afetivo que um filho tem pela sua mãe. O ano de 1968 foi turbulento num mundo cheio de questões onde se buscavam respostas de como deveria funcionar uma sociedade justa. Regimes totalitários de esquerda e de direita, guerra fria, intervencionismo militar, liberdade sexual, tudo isso faz dessa década, e sobretudo de 1968, um marco em que o planeta quis se reinventar e não conseguiu. O documentário de JMS cujo único ponto mais vulnerável seja da duração um pouquinho excessiva, aborda revoluções abortadas pelo conservadorismo como na França e no Brasil, uma contra-revolução silenciada em Praga e uma consolidada em rituais de obediência e bandeiras coloridas como a chinesa.

O filme de Daniela Thomas, VAZANTE, vem recheado de credenciais em realizar um filme de época que revela a vida de escravos na Minas Gerais do século XIX. Mas, numa linguagem completamente diferente de filmes sobre a servidão humana que se conhece, Daniela investe no vazio existencial dos personagens. Tantos os senhores, os escravos, as sinhás e os capitães do mato são espectrais, frutos do tédio, da secura e da ausência de significados. Um filme belo, lento, cheio de silêncios constrangedores que, fotografados magistralmente em preto e branco, reforçam suas intenção de provocar perplexidade. A sucessão de feriados é uma boa oportunidade para colocar o cinema brazuca em dia.

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