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Troca de camisas

  • Sérgio Bandeira de Mello, Gico
  • Nov 14, 2017
  • 2 min read

Chico Buarque e o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay

No mundo do futebol, é bastante significativa a troca de camisas entre atletas. Sobretudo na situação em que determinado craque, jovem promissor, joga contra o antigo ídolo, cujo reconhecimento é público, mas que vem em fim de carreira.

Se melancólico ou não, são outros quinhentos milhões de dólares, e não os disputados indiretamente no sensacional embate-exibição entre o Politeama, detentor do foro privilegiado de Chico no Recreio, e o time visitante, o Prerrogativas.

Tal equipe é composta, entre outros valores declarados à Receita e ao TSE, por advogados do Lula, do Joesley e do Dirceu, este o capitão derrotado de goleada na segunda rodada no Sul, porém ainda livre na área para organizar a estratégia para o próximo Brasileiraço.

Por se destacar do gesto burocrático entre dois companheiros de clube ou seleção de base, aliada ou não, procure saber que a imprensa adora captar a emoção desse momento lindo, não só com um simples flash, mas como insumo jornalístico para uma biografia autorizada muito bem remunerada.

No caso jurídico-esportivo que veio à baila pelas mãos da Folha, a celebrada permuta ao fim do jogo revela respeito mútuo, quando não uma passagem de bastão. A atitude foi obra de um tarimbado atacante que resistiu à Ditadura, ao Sarney e ao Collor, mas que recuou para se tornar defensor do Mensalão. Tudo para chegar ao Petrolão na condição de símbolo das corporações do funcionalismo, que resistem nas trincheiras sindical e estudantil.

Perante a opinião pública – a ser imposta à mídia pelo porta-voz Cae -, Kakay deverá ser considerado o guri de Chico. E não há aqui nenhuma alusão subliminar àqueles dias de sangrias desatadas que seus ilustres clientes Lobão, Sarney e Jucá prometeram estancar por torniquetes golpistas apertados por Temer, ex-fora.

Do seu canto, com o seu canto repetido em contracanto nas redes que Caymmi não deitava, Chico já defende os bandidos faz tempo, e sempre cobrou mais barato, fidelidade sem contrato. Mal comparando, sinal dos tempos, é como se pudesse haver semelhança entre os honorários advocatícios cobrados por Pelé e Neymar.

Pois o velho Chico sucumbiu à transposição dos ex-votos do nordeste para os tribunais que irrigam a política. É chegada, pois, a hora da exibição dos consagrados jogadores que enfrentarão o Petrolão Formação de Cartel, clube com o patrocínio máster da Odebrecht e as mais diversas chancelas. Todavia, com os craques do aguerrido Prerrogativas FC, o jogo pode e deve virar.

Não por acaso, o escore do jogo de confraternização no Recreio foi de 6 a 5, típico placar do conflagrado Subpremo. O gol de minerva, admitido com toda a vênia e reverência, e comemorado por ambas as partes, foi oferecido ao decano entre as quatro linhas de defesa: procrastinação, chicanas, embargos e narrativas magistrais em prosa e verso.

A defesa incondicional da prerrogativa de foro rimada e ritmada, base da dissonante harmonia patrimonialista, já clama por uma boa tradução para o latim castiço dos tribunais superiores, para quando as camisas suadas forem trocadas pelas imaculadas togas.

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