Mobilidade Urbana - o maior legado dos Jogos Rio 2016
- Francisco V. dos Santos | Aluno - AgênciaUVA
- Nov 9, 2017
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Um ano depois do evento, muitos problemas ainda sem solução
Destaque durante os Jogos Olímpicos Rio 2016, a mobilidade urbana constitui-se como o principal legado das Olimpíadas para a cidade do Rio de Janeiro. Dos compromissos firmados, especialistas em mobilidade apontam a implantação dos novos modais de transporte público e a ampliação do metrô do Rio até a Barra da Tijuca, na Zona Oeste, como importantes melhorias para a locomoção da população. Mas, apesar de ter atendido satisfatoriamente a cariocas e turistas no decorrer do evento esportivo, em agosto do ano passado, há problemas a serem resolvidos até hoje em todos os modais. O veículo leve sobre trilhos (VLT) ainda está em construção, o metrô da linha 4 (Ipanema-Barra) tem parte das obras suspensa e o sistema BRT (sigla em inglês para Bus Rapid Transit, que significa Transporte Rápido por Ônibus) enfrenta dificuldades financeiras e de gestão do modelo de negócio. Especialista em transportes e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o engenheiro Alexandre Rojas afirma que as questões de mobilidade no município do Rio não são fáceis de solucionar e aponta as “centralidades” como o grande problema. Moradores de diferentes bairros e da Baixada Fluminense se deslocam diariamente ao Centro para trabalhar. Um exemplo é a Barra da Tijuca, onde os moradores trabalham fora do bairro e os trabalhadores de lá moram fora dele. “A principal solução é uma política para criação de múltiplas centralidades, que possibilite aos cariocas trabalharem, estudarem, enfim, fazerem todas as suas atividades, sem grandes deslocamentos”, diz Rojas.
Aos poucos, o VLT vai sendo implantado. Somente no dia 21 de outubro, a linha 2 começou a circular em sua totalidade, no trajeto Rodoviária-Praça XV, passando pela Central do Brasil. De acordo com a concessionária VLT Carioca, a demanda era de 43 mil passageiros por dia útil e estava de acordo com o planejado para esse momento da operação. Com a circulação no novo trecho, que terá conexões com a estação de trens e terminais de ônibus municipais e intermunicipais, além de mais uma ligação com o metrô, a previsão é que a demanda aumente em 20 mil passageiros por dia. Já a conclusão das obras da linha 3, no percurso Central-Santos Dumont, passando pela Avenida Marechal Floriano, está prevista para 2018. Pelo projeto original, o modal carioca deveria ser concluído até 2016 e atender à demanda de 300 mil passageiros por dia. A validação voluntária de bilhetes foi uma novidade no serviço. Previsto para ser implantado ainda durante os Jogos Olímpicos, apenas começou depois do evento. Segundo a concessionária VLT Carioca, a prática foi bem assimilada e teve resposta positiva do público. O índice de não pagamento é inferior a 15%; está abaixo do previsto e da média de outros sistemas semelhantes.

Com o sistema BRT, os transtornos são outros. Os três corredores exclusivos para ônibus — Transoeste, Transcarioca e Transolímpica — são responsáveis pelas maiores conquistas da mobilidade, especialmente por atenderem às zonas Norte e Oeste, onde as condições do transporte público eram mais precárias. No entanto, falta de manutenção, insegurança e depredações são comuns no dia a dia dos passageiros. Segundo o Consórcio BRT, somente este ano já foram gastos cerca de R$ 12 milhões com o desgaste precoce dos equipamentos das estações e terminais e com o vandalismo nos coletivos articulados. Apesar dos problemas, o sistema BRT alavancou a mobilidade na cidade. Os corredores expressos cobrem dois terços da extensão territorial da cidade, cruzando pelo menos 50 bairros, e transportam uma média de 400 mil passageiros por dia. O maior ganho do sistema é a redução do tempo de viagem. O deslocamento entre o bairro de Vicente de Carvalho, na Zona Norte, e a Barra da Tijuca, por exemplo, levava em média duas horas antes das obras. Agora, pelo BRT, pode ser feito em 40 minutos no serviço semidireto. "Ficava mais de uma hora para fazer o trajeto Taquara-Barra da Tijuca. Pelo BRT, é super rápido", conta a turismóloga Gabriela Pessoa, 26 anos. Ela reclama, entretanto, da lotação dos ônibus. Diretora de Relações Institucionais do BRT, a jornalista Suzy Balloussier esclarece que o transporte de alta capacidade vai andar sempre cheio nos horários de pico, mas reconhece que o sistema passa por dificuldades. A diretora afirma que, como consequência da crise financeira, a empresa Santa Maria, uma das integrantes do consórcio, faliu. Ela diz ainda que outras empresas também têm enfrentado problemas para cumprir os compromissos, pagar fornecedores etc. Questionada pela reportagem sobre o déficit na demanda, Balloussier disse que dois fatores são decisivos para que o sistema não atinja a meta divulgada pelo município de 610 mil passageiros por dia: a crise de empregabilidade na cidade, que retira 370 mil trabalhadores do mercado, e a não conclusão do corredor Transbrasil, que fará a ligação da Transolímpica com a Transcarioca e com outros modais, como o trem e o metrô. O novo corredor permitirá também trazer para o sistema BRT a população da Baixada Fluminense através dos terminais de Deodoro e Irajá.

Já as obras da linha 4 do metrô foram marcadas por atrasos, escândalos e continuam incompletas. Equipamento mais caro do pacote olímpico de transportes, a circulação foi iniciada às vésperas dos Jogos para atender exclusivamente ao público do evento olímpico. Atualmente, transporta em média apenas 150 mil passageiros por dia útil, número muito abaixo dos 300 mil anunciados inicialmente pelo governo do Estado do Rio. No entanto, é inegável a melhoria para a população da Zona Oeste que se dirige ao Centro ou à Zona Sul pelo metrô. O passageiro que embarca na estação Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca, chega em 30minutos ao Centro, informa a Concessionária Metrô Rio. Antes, esse trajeto levava cerca de duas horas. Envolvidas em suspeitas de corrupção, parte das obras da linha 4 do metrô referente à estação Gávea foi suspensa pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ). Segundo a coordenadora de Comunicação do TCE, Celia Abend, no momento, estão sendo analisadas as informações prestadas pelo governo do Estado ao conselheiro José Gomes Graciosa sobre irregularidades apontadas nas obras. O processo será novamente levado ao plenário, em data ainda não fixada. O pedido do governador Luiz Fernando Pezão pela continuidade das obras de conclusão da estação Gávea também está sob análise. Não há dúvida de que os investimentos em transportes no Rio de Janeiro trouxeram alívio para os usuários do sistema, mas ainda é preciso melhorar muito para atingir um nível de qualidade satisfatório para a mobilidade urbana no município. Os poderes Estadual e Municipal precisam concluir as obras e também investir mais e melhor na integração, na gestão e na fiscalização desses serviços, essenciais para a população. Enquanto isso não acontece, passageiros esperam nos pontos por longos períodos, expostos a assaltantes e tarados, ou se apertam nos coletivos, enfrentando calor e desconforto. A AGÊNCIAUVA tentou, sem sucesso, falar com o engenheiro Fernando Mac Dowell, vice- prefeito e atual secretário municipal de Transportes do Rio, e com os deputados estaduais Carlos Roberto Osório e Rafael Picciani, ambos ex-secretários da pasta durante a preparação da cidade para os Jogos Rio 2016. Também não houve retorno da Secretaria de Transportes do Estado à solicitação de informações sobre a situação das obras do metrô e de autorização para fotografar a Estação Gávea.
Fotos de Francisco V. Santos:
1. Veículo leve sobre trilhos no Centro do Rio - VLT Carioca
2. Estação Olaria – fechada por causa de vandalismo - furto de equipamentos e cabos elétricos
3. Linha 4 do Metrô – Estação Antero de Quental, em dia útil 07:30 da manhã (vazia)