Tudo acaba em samba. Ou: a vida é mesmo um circo
- Jason Prado - DP
- Oct 12, 2017
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Festival Gospel, Rock in Rio, Festival de Música Sertaneja, Villa Mix e agora o Cirque de Soleil.
O calendário do Parque Olímpico não deixa dúvidas: o Rio precisava de um espaço definitivo para grandes eventos. Não uma coisa provisória, mal acabada, como a Cidade do Rock - mas um local caprichado, construído com os recursos milionários do incentivo ao esporte para subsidiar a paupérrima cadeia produtiva do Showbiz.
Acho que todas as pessoas do mundo seriam mais felizes se fossem ao circo. Não aqueles circos de bizarrices do século XIX, mas os circos focados no grande espetáculo da superação humana, de conjugação da vida com a arte, como o Cirque de Soleil.
Entre um Circo e os festivais de música, não escondo as minhas preferências. Aos que não me conhecem, fui dono de circo.
Mas o Parque foi construído para ajudar ao desenvolvimento dos esportes de alto rendimento, que não têm as mesmas possibilidades de receita que o futebol, o tênis e os festivais de música, por exemplo.
Não sei bem como esses espetáculos estão contribuindo para o atingimento desses objetivos.
Faria um bem enorme à próxima geração de cariocas se a montagem do Soleil no Parque Olímpico permitisse que todas as crianças das escolas públicas - de Jacarepaguá, pelo menos -, pudessem assistir (de graça) e se encantar com o maravilhoso espetáculo que eles sempre apresentam.
Receio, apenas, que os eventuais benefícios da utilização do equipamento Olímpico não sejam socializados até à base da pirâmide. O mais provável é que se diluam nas camadas mais próximas do topo, onde a luz do sol sempre brilha, o ar é mais puro.
A último novidade é a transformação do Parque num “Blocódromo” no próximo carnaval.
Era o que faltava: a festança de Baco, a grande alegria dos fabricantes (e compradores) de preservativos, que são distribuídos às mãos-cheias como se dizia antigamente, e que já é totalmente subsidiada pelos governos, patrocinada pelas cervejeiras e controlada pela Liesa, de conhecidas vinculações zoológicas, será a próxima manifestação cultural deficitária a utilizar os equipamentos de nossos perdulários atletas.
E nós?
Bem, nós olhamos tudo isso acabrunhados. Alguns, nem tanto. E acreditamos com uma fé inabalável que o nosso título de eleitor vá operar um milagre em 2018.
Vamos até lá com fé ardorosa, carregamos aquele pedaço de papel verde como se fosse a imagem do divino, e lavamos as nossas mãos num rito simbólico: em contrição, sós com nossas convicções, corações ao alto e o botão apertado. A campainha eletrônica, como as sinetas das missas, nos lembra de que entramos em comunhão com a palavra divina.
E assim, purificados, arrastamos pra casa a nossa indignação, até o próximo carnaval.
A vida não é um circo?