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O que você vai ser quando crescer?

  • Luís Eduardo P. Basto
  • Sep 28, 2017
  • 2 min read

Na infância, a pergunta me perseguia como dedos de tias distantes querendo apertar minhas bochechas. Incomodava, podia até doer, mas não deixava sequelas. Não havia ansiedade, medo, limitações. Tudo era oportunidade.

Não me sentia culpado por escolhas improváveis. Afinal, eu podia qualquer coisa. Menos aceitar as carreiras óbvias das brincadeiras - médico, policial, bombeiro e jogador de futebol.

Para ver o futuro, tinha apenas um instrumento. A imaginação.

Do meio para o final da adolescência, já sabia o que não queria ser. Se a pergunta me causava desconforto era porque estava perdido num mar de possibilidades. Sentia no rosto o vento forte do futuro e sorria, confiante e debochado, diante da tempestade que chegava.

O futuro estava ao alcance de uma boa luneta.

Aos 25 começaram as cobranças pelas escolhas. Você acha que cresceu, mas não tem certeza. Faz cinco, dez, vinte coisas ao mesmo tempo. Abraça o mundo e não consegue escolher. A pergunta deixou de me perturbar simplesmente porque não conseguia parar. Ia firme sem olhar o caminho, cego pelas responsabilidades e pelo medo de ter errado a estrada.

Eu queria uma lupa para enxergar o futuro.

Perto dos 40 anos, acreditei que havia esquecido a pergunta.

Podia até ter dúvidas sobre quem escolheu (eu ou a vida), mas, definitivamente, era alguma coisa. Olhava para o passado como um conquistador observa seu império. Tudo aquilo nos pertence porque vencemos.

Com um espelho eu via o futuro.

Na travessia dos 50 para os 60, relembro a pergunta e sei que ela ficará sem resposta. Ninguém cresce e, num determinado momento, se transforma em algo que já não é. Ainda posso muito, porém aprendi que preciso escolher. Não que falte tempo. Apenas pelo prazer de fazer bem feito.

Simplesmente olho pra frente e acredito no futuro.

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Esta reflexão foi provocada pela descrição detalhada que Catarina, minha caçula de nove anos, faz do seu futuro. Se você acha que se trata apenas de fantasia de criança, é porque não conhece a minha pequenina.

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