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Paris, a cidade cinematográfica

  • Luciano Bastos, DP
  • Sep 4, 2017
  • 3 min read

Há cidades que têm um poder de comunicação tão intenso que, quando usadas para ambientar histórias levadas às telas, exercem um forte protagonismo, disputando o olhar e o interesse com os atores que nela passeiam seus dramas e seus conflitos. Nova Iorque e Paris são, de longe, o maior exemplo disso. Neste artigo vamos abordar especificamente a capital dos franceses. Não só o cinema francês ambientou a maioria de suas histórias em Paris, como também o cinema americano fez da cidade sua locação preferida, sempre que optava por sair com suas lentes mundo afora. Vincente Minelli achava a capital francesa um cenário perfeito para os seus musicais e tanto os oscarizados Sinfonia de Paris (An american in Paris) quanto Gigi mostravam personagens típicos circulando numa Paris primaveril e ensolarada. A cena de Leslie Caron dançando com Gene Kelly à beira do Sena inspirou Woody Allen, décadas depois, a fazer uma cena igual em Todos dizem eu te amo (Eveyone says I love you) colocando Goldie Hawn voando, leve como a pluma, naquele cenário espetacular. O próprio Allen, conhecido por sua paixão absoluta por New York, produziu uma fábula extraordinária criando encontros impossíveis entre personagens não contemporâneos que transitavam pela burbulhante cidade-luz na obra-prima Meia noite em Paris (Midnight in Paris). Ninotchka (Ninotchka), imortalizada por Greta Garbo, saia da Moscou comunista como uma dura oficial para resgatar agentes soviéticos que se demoravam em missão parisiense, e lá derretia toda a sua sólida convicção ideológica por absoluta paixão pela cidade. O filme do mestre Ernst Lubitsch seria refilmado mais tarde com o título Meias de seda (Silk stockings) de Rouben Mamoulian com Fred Astaire e a bela Cyd Charisse. Na época, o filme era considerado maldito pelos militantes de esquerda, pois debochava do regime totalitário da URSS. A ícônica Audrey Hepburn andou muito por aquelas ruas. Fez Cinderela em Paris (Funny Face) ao lado do eterno Fred Astaire e Quando Paris alucina (Paris when it sigglez) ao lado de William Holden. Fez também Charada (Charade) com Cary Grant, Amor na tarde (Love in afternoon) com Gary Cooper e Como roubar um milhão de dólares (How to steel a million dollars), com Peter O’Toole. Este último, dirigido pelo craque William Wyler, é uma das comédias mais divertidas já feitas. Ninguém combina mais com Paris do que a inesquecível Audrey, apesar de também ter celebrado New York em Bonequinha de luxo (Breakfast at Tiffanys), filme que promoveu a imagem mais celebrada da atriz em posters vendidos em todas as partes do mundo. Foi em Paris que Ingrid Bergman se apaixonou por Humphrey Bogart em Casablanca (Casablanca), e também foi lá que Marlon Brando e um tablete de manteiga escandalizaram o mundo contracenando com Maria Schneider em O último tango em Paris (last tango in Paris) de Bertolucci. Até Chaplin esteve por lá fazendo das suas em Monsieur Verdoux. Jeanne Moreau imortalizou-se como uma das mais importantes atrizes francesas de todos os tempos e há dezenas de filmes seus ambientados na cidade, como o extraordinário Ascensor para o cadafalso (Ascenseur pour l’échafaud) de Louis Malle que, ajudado pela trilha de Miles Davis, constrói uma atmosfera cult e nouvelle vague no cenário em preto e branco. Até Bunuel, distanciando-se do estilo surrealista, construiu uma história de sexo e sedução em Paris protagonizado pela belíssima Catherine Deneuve em A bela da tarde (La belle de jour). Alguém pode esquecer de filmes de Godard ou do seu amigo Truffaut em que Paris é mais que um simples cenário, exercendo um inegável protagonismo de encantamento e rebeldia, como Acossado (à bout de souffle) onde um descolado Jean Paul Belmondo desfila seu charme ao lado da linda Jean Seberg, e A noite americana (La nuit americaine), onde Jacquekine Bisset interpreta uma atriz flanando durante uma “tournage” pelos bulevares parisienses. E Juliette Binoche abre mão do seu glamour para interpretar uma cega num filme que mostra os excluídos parisienses em Os amantes da ponte Neuf (les amants du pont Neuf). A lista é interminável. Há milhares de filmes que servem para matar a saudade daqueles que se encantam pela cidade com tantos monumentos, tantos cafés, tantas pontes e tanto romantismo. Mas há um filme que gostaria de destacar aqui que soa como uma declaração de amor bastante original. Trata-se de Tempo de diversão (Play Time) de Jacques Tati, onde o cineasta cria uma cidade futurista em que os monumentos que são os cartões postais de Paris só aparecem no reflexo dos vidros. E que reflexos!

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