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Godard, Jean Luc - ontem e hoje

  • Luciano Bastos, DP
  • Aug 30, 2017
  • 2 min read

Godard sempre foi radical. Sempre ficou mais próximo do limite, mesmo quando comparado aos seus companheiros do Cahiers du Cinèma como Rivette, Chabrol e Truffaut Em todos os seus filmes percebe-se a intenção de fazer rupturas e ultrapassar limites. Na minha adolescência e juventude ir ao Paissandú ver um filme de Godard era sinal de engajamento com toda uma contracultura que se fortalecia na época. O mundo queria ser palco de mudanças e o jovem, inspirado nos movimentos da esquerda francesa, ia para as ruas gritando slogans que propunham a utopia do socialismo com liberdade. Era o mundo de Sartre, do Vietnam e de tantas transformações sociais. Godard fazia filmes que transgrediam o conceito narrativo tradicional e criava uma ideologia moldada no exercício pleno de uma metáfora filosófica.

Era uma linguagem recheada de silêncios calcada numa realidade multi facetada. Com menos de 18 anos eu falsificava a carteirinha de estudante para poder assistir aos filmes da chamada nouvelle vague, normalmente proibidos para menores de 18 anos. Eu e uma multidão de moleques que, mesmo sem entender tudo, lá estavam para se esforçar e tentar aqueles códigos. Foram inúmeros filmes de Godard, Resnais, Bergman e Antonioni que nos faziam praticar, sempre que alcançávamos, a inteligência.

A última experiência do mestre francês, hoje um senhor de 90 anos. “Adeus à linguagem” é uma provocação. De Godard, tem as características de colocar imagens fora do quadro e fazer da trilha sonora um inquietante medley. Um fio de história, se é para chamar de história, entrega dois protagonistas dizendo frases soltas, nus a maior parte de tempo, alternando com sequências que mostram lugares bucólicos com um cachorro contemplativo e sequências que produzem imagens distorcidas que devem querer significar, talvez, que a linguagem, tal como é conhecida, deva estar velha e enferrujada. Seria uma obra hermética? Não acho que seja prudente adjetiva-la assim. Hermético seria , por exemplo,“Ano passado em Mariembad” que leva ao extremo uma experiência pessoal de buscar explicações no passado.

Ao ver “Adeus à linguagem” dá vontade de assistir “Acossado” (à bout de souffle) só para conferir um descolado Belmondo dividir a tela com a charmosa Jean Seberg. Ali havia de fato algo de rebeldia que permitia o nascimento de novos conceitos. “Pierrot le fou” também, assim como “Alphaville” e “A chinesa”, todos da época de ouro do polêmico e politizado realizador francês. Já esse Godard novinho, produzido em 2014, não diz nada, só desconstrói, e com todo o respeito ao mestre, cai o pano.


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