Mulheres que pularam a cerca no cinema
- Luciano Bastos, DP
- Aug 14, 2017
- 3 min read

Relações amorosas de todas as cores e intensidades sempre foram matéria prima para narrativas literárias e cinematográficas. Dentre as diversas formas de romantismo, o amor que escapa ao rigor das convenções sempre foi um filão capaz de despertar muito interesse. Neste artigo, estaremos lembrando algumas aventuras extraconjugais protagonizadas nas telas pelas mulheres. David Lean, o grande cineasta inglês, produziu um dos melhores filmes em que uma mulher casada encontra um sentido para a sua existência quando o acaso , um encontro fortuito numa gare, traz de volta emoções já sepultadas há tempos. “Desencanto” (Brief encounter) é uma obra-prima que traz uma Celia Johnson fascinada por um Trevor Howard, ambos ainda jovens no filme de 1945. Anos depois, em 1971, o mesmo Lean, já na sua fase de grandes espetáculos, mostra em “A filha de Ryan” (The Ryan’s daughter) o adultério de Sarah Miles numa Irlanda pobre e preconceituosa, sendo punido pela população, não só por questões de conservadorismo moral, como também por questões políticas, já que o objeto de sua paixão é um soldado inglês em missão contra os rebeldes irlandeses. Via de regra, o tédio é a grande explicação. Visconti fez um belo filme em que mostra uma condessa italiana que se envolve perdidamente por um tenente austríaco em Sedução da carne” (Senso) com a belíssima Alida Valli em plena forma. A mesma atriz também trai o maridão, desta vez dirigida por Antonioni, em “O grito”. Alguns desses adultérios são obsessivos como o da lendária Anna Karenina, obra baseada no romance homônimo de Tolstói, filmado por Julien Duvivier em 1948 com Vivien Leigh no papel título e, mais tarde em 2012 com Joe Wright na direção com a bela Keira Knightley vivendo a russa apaixonada. Uma das histórias mais clássicas do adultério em forma de mulher é “Madame Bovary” de Gustave Flaubert. Gerou dezenas de adaptações entre as quais, uma dirigida por Vincente Minelli em 1949 com Jennifer Jones caindo de encantos por Louis Jourdan e uma mais recente (1991) dirigida por Claude Chabrol que conta com o charme de Isabelle Huppert. Recentemente, o cinema francês fez uma paródia cômica com a famosa história chamada “Gemma Bovery- a vida imita a arte” com um Fabrice Luchini vivendo um fabricante de pães que, fascinado com a chegada da bela inglesa, teme pelo trágico destino da jovem (Gemma Aterton) já que ela o nome quase igual ao da personagem de Flaubert. A mesma Jennifer Jones, a Bovary de Chabrol, insatisfeita com seu casamento cai nos braços de Montgomery Cliff em “Quando a mulher erra” (Stazione Termini) de Vittorio De Sica. Outro clássico do gênero é “O destino bate à sua porta” (The postman always rings twice), baseado na novela de James M. Cain. O filme teve duas versões mais conhecidas. A melhor é de 1946 com Lana Tuner contracenando com John Garfield sob a direção de Tat Garnett. A outra traz a curvilínea Jessica Lange traindo o marido com Jack Nicholson na versão de Bob Rafelson. O novelista James M. Cain é autor de uma outra pérola da traição associada a crime que é o excelente “Pacto sinistro” (Double indemnity) de 1944, dirigido por ninguém menos que Billy Wilder, trazendo Barbra Stanwick e Fred McMurray nos papéis principais. Em “Apenas uma noite ”Keira Knightley esteve a um passo de trair seu marido com um namorado de outrora no instigante “Apenas uma noite” (Last night) de Massy Tadjedin. Em “Um crime de mestre”, Anthony Hopkins planeja o assassinato da mulher que tem encontros tórridos com seu amante. Meryl Streep acaba vivendo uma intensa fantasia amorosa com Robert Redford em “Entre dois amores” (Out of Africa), apesar de ser casada com Klaus Maria Bandauer, no filme de Sidney Pollack que se transformou num campeão de bilheteria. O único filme brasileiro a ganhar a palma de ouro em Cannes, “O pagador de promessas” revela também a fraqueza de uma mulher que acaba sendo seduzida por um cafajeste enquanto seu marido fazia vigília na porta da igreja, disposto a cumprir sua absurda promessa. A doce Diane Lane pinta e borda com o maridão Richard Gere em “Infidelidade” (Unfaithful). Com esse título não poderia ser outra coisa. Até o George Clooney leva um bom par de chifres em “Os Descendentes” (The descendants) de Alexander Payne. A mulherada saia do cinema indignada, afirmando que jamais trairiam o Clooney. Nem pensar! Só para finalizar essa minúscula relação dos seguidores da lady Chatterley, vale acrescentar um curiosíssimo filme de Paolo Genovese chamado “Perfeitos desconhecidos” (Perfetti sconosciutti), em que um grupo de amigos são convocados a um perigoso jogo de revelações pela anfitriã de um jantar. Um filme irresistível que tem a bela Kasia Smutniak fazendo o papel da esposa safadinha. A lista é interminável e as contribuições serão bem vindas.