Luz de velas
- Sérgio Bandeira de Mello, Gico
- Jul 12, 2017
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Quando as distintas senhoras senadoras resolveram aceitar o convite para ocuparem a mesa do Salão Azul, não contavam que o ambiente pudesse se tornar tão romântico.
Acomodada na cadeira do presidente, a musa do “gópi” viveria nada menos do que duas dúzias acumuladas de 15 minutos de glória. Na companhia de suas acompanhantes queridas, a rebelde entronizada buscava transformar água em vinho, no sentido de lograr harmonizar as rascantes reformas trabalhistas com o frutado mel da seara sindical.
Segundo as línguas mais afiadas do Congresso, ali tinha o toque do Chef Dirceu, de volta ao circuito gastronômico depois de uma temporada enfronhada nos livros e nas quentinhas, tendo aperfeiçoado a técnica destinada a agradar os paladares mais refinados da república estudantil, sabidamente inspirada no papel higiênico que marca os ideais bolivarianos.
O danadinho preparara tudo nos menores detalhes, ao destacar o coleguinha mais desinibido das bancadas companheiras para atender as excitadas madames no que fosse preciso. E o incorrigível Lindinho não tardou a deixar tudo nos trinques para a cerimônia que atrairia os olhares de todos por seis longas horas.
Sob os auspícios da CUT e da Friboi, a mortadela foi embutida no cardápio que encantou os corações valentes. Um verdadeiro arraso, como só a garotada sadia da UNE e os ídolos da MPB sabem proporcionar aos brasileiros.
Fato é que o enfant térrible da Casa acertou em cheio ao servir as iguarias à francesa, sempre pela esquerda, não dando chances aos maledicentes que enxergariam um tanto de ranço autoritário, falta de educação ou decoro no procedimento.
Já a presidenta do PT, narizinho arrebitado pelo olfato apurado, seduzida pelo aroma inconfundível de mais um inesquecível almoço grátis, brilhou na sustentação da medida que acabaria por apagar as luzes da Casa de tolerância, pertencente à comadre Joana.
O almoço ajantarado à meia luz, com quentinhas reluzentes no plenário, há de ficar na história das narrativas da Academia como o grande marco de resistência ao regime.