O Estrogonofe

Há um velho filme do creme de leite Nestlé que condensa a boca livre oferecida pelo Boca-mole às boquinhas mais aflitas do Planalto.

Digamos que a minha fonte é uma mosquinha que circundava uma peça de carne sangrando da Friboi, prestes a se tornar o picadinho especial que o ministro adora. Subitamente, em um pequeno recesso do STF, o telefone toca na área cível do escritório de um conceituado advogado, um dos favoritos das causas criminais da corte suprema.

Como tal mosquinha não tem acesso à conversa, por estar zumbindo em uma cozinha do Lago Sul, mesmo sendo fruto de um grampo ilegal, impossível para os ouvidos de um invertebrado, o inseto pôde apenas especular entre o pouso no alimento cru e a constante ameaça de esmagamento.

O fato é que a cozinheira não tardaria a ser incomodada por uma ligação da patroa. O telefonema de madame foi rapidamente compreendido pela minúscula criatura graças às reiteradas exclamações da serviçal, todas proferidas em altos brados e baixo calão, naturalmente após o clique final.

Já do que trataria o cardápio, trivial simples do varejo político, minha fonte varejeira apenas conseguiu interpretar por causa das palavras que a quituteira de mãos cheias dirigiu a seus botões, espécie de inconfidência em uma Brasília povoada de grampos.

- Justo agora na hora da novela, o cabrunco disgramado resolve trazer amigo pra jantar. Se já não bastasse um, vêm três pançudos! Estão procurando procurador, procuradora, sei lá, conversa fiada, papo de maluco, só pra me atazanar o juízo. Comigo não, violão. Vou fazer picadinho dessa carne fraca da Friboi. Dane-se se essa mosca veio do esgoto. Depois eles não sabem por que a carne é reprovada nos Estados Unidos, e só o açougueiro é aceito lá.

Já na linha privativa entre poderosos de dois poderes, o especialista em supremo de frango, famoso pelo tempero carregado na empáfia apimentada, largou o celular onde falava com a esposa para arrematar ao interlocutor da linha fixa: - vão comer um estrogonofe!!

#jantarGilmarMendas