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Democracia à brasileira

  • Jason Prado, DP
  • Jun 24, 2017
  • 2 min read

O Brasil é feito por dogmas e paradigmas, e o nosso sistema político é um deles.

Poderia ser por conta do passado monárquico, pela ancestralidade portuguesa ou apenas um resquício da cultura escravocrata - no fundo tudo isso se mistura. Mas cultuamos como “verdade”, valores que não resistem a uma análise rasteira.

Democracia é um deles. Os brasileiros acreditam que vivem numa democracia, onde o poder é exercido pelo povo e em nome do povo.

Não há conversa, debate ou notícia que não recorra ao termo para embasar seus argumentos.

Como nas religiões, quanto mais se acreditar nos seus deuses, mais forte fica o dogma.

A fé na Democracia está expressa no parágrafo único do Artigo primeiro da Constituição, não por acaso, a Bíblia do Estado: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”

Diga lá você, leitor desavisado que ultrapassou os limites de um tweet, você acha que o seu voto vale a mesma coisa que o voto do Joesley ou da família Odebrecht?

Ou você concorda que a palavra dinheiro se adequaria mais àquele parágrafo? Capital, então, seria perfeito.

Quando o TSE decide que uma eleição fraudada não pode ser anulada porque isso desestabilizaria a democracia, você acredita novamente que eles estão falando do povo? Isso traria insegurança para os 14 milhões de desempregados, ou para aqueles que estão com seus esquemas bem arranjados, normalmente conectados ao estado?

Será que os passageiros do transporte público na periferia dos centros urbanos, esses mesmos que são diariamente assaltados ou alvejados por balas perdidas, ficariam mais fragilizados?

Quando os nobres da República (parece um contrassenso, não?) dizem que o combate à corrupção está ameaçando a democracia, você diria que isso vai impedir que os eleitores dos municípios de fronteira elejam seus representantes?

E quando o presidente do TSE sugere que se crie um fundo público de bilhões para financiar uma eleição, mas diz que não tem como incluir a emissão de um comprovante e um totalizador impresso nas urnas eletrônicas porque isso custaria caro, você poderia jurar que ele quer proteger a integridade do seu voto?

Bem, antes que me joguem à fogueira, como se jogam os que combatem os dogmas, a Democracia precisa ser fortalecida para que o Brasil saia do atoleiro em que se meteu.

Mas não vai ser debaixo desse véu que se criou sobre ela que suas entranhas serão reviradas. Chega de arranhar a borda para proteger o cerne: enquanto os governantes puderem dispor do Estado e sangrar o tesouro, como fazem aqui, trocando votos por cargos e emendas parlamentares, sendo anistiados de forma acintosa pelo corporativismo, fugindo cinicamente da verdade com chicanas jurídicas, não se poderá falar em representação do Povo, porque povo será apenas massa de manobra do verdadeiro regime - a plutocracia, onde o poder é exercido pela elite econômica.

Isso te parece familiar?

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