Posso tudo no meu papel em branco
- Lygia Gay, sobre escritos poéticos de Lara Gay
- Jun 21, 2017
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Harry,
Aquela dose de você que me faltava chegou em mais uma carta. Com gosto de saudade, com cheiro de quero mais. O meu silêncio é o acúmulo de palavras, por isto escrevo. Mas prefiro não falar em impossibilidades, não acredito nelas. Nas possibilidades sim, eternas e cheias de esperança, me guiam desde sempre. Digo tudo em nada mais que algumas linhas entaladas durante anos. Meus fatos idiotas se transformam em contos de fadas cheios de heróis que criei para fingir ser princesa – a sua princesa – para ter o príncipe na minha cama, pra pecar feito santa. Senti tantas saudades de nós!
O lápis grita minha angústia, meus amores, meus amigos, as histórias que vivi, que ri, que criei. As que venci e as que perdi, as que doem e as que destroem. Através do papel sou a dama e a vagabunda, finjo sentir e sinto, me orgulho de não ser o que na verdade sou. É mais fácil, dói menos. Foi o álibi que encontrei pra seguir em frente. Sem você, Harry.
Posso tudo no meu papel em branco. É aqui que borro o lápis do olho. Me escondo do mundo lá fora. Rasgo o que não me serve. Grito minha liberdade. Recrio minha alegria. Enquanto flashes do passado que parece que foi ontem explodem em meus sonhos, eu só espero que você possa perceber que não se abre mão nem da vida, nem do amor. Acontece, às vezes. Mas não fique triste, meu querido. Não existe ponto final. Pelo menos por enquanto.
Sua,
Sally