Confesso
- Jason Prado, DP
- Jun 19, 2017
- 2 min read
Sally,

Não posso voltar a você sem confessar que sua carta plantou um vazio que me tirou um pouco de chão.
Uma coisa é saber de você por amigos, ouvir notícias e por ai, rir dos seus posts no face… Outra, bem diferente, foi abrir essa porta para o passado, a essa altura da nossa existência.
Que fizemos de nossas vidas, Sally?
Onde estávamos com a cabeça, quando nossos caminhos se dividiram e tomaram o rumo que nos trouxe até aqui?
Não pretendo dizer que não tenhamos encontrado nossos momentos felizes.
Que essas décadas que se passaram, desde que nossos olhares se cruzaram nas salas de aula da Puc, não tenham sido vivenciadas com muita intensidade.
Nem que tenha sido um erro nos afastarmos quando tivemos a chance de nos amarmos na vida adulta. Fizemos escolhas, lançamos os dados, essa é a verdade.
Nos sobravam certezas e uma esperança quase cega, convicta, de que algumas portas se abririam para aquilo a que Flaubert chamava de felicidades futuras, nos tornando autênticos rolling stones, a síndrome de nossa época.
Essa janela que abrimos agora me mostrou que o bem mais precioso que supúnhamos ter, as infinitas possibilidades, só alongaram nossos caminhos e semearam desertos à nossa volta. Trocamos rostos por vultos, vozes por murmúrios, vida por lembranças.
Não é bem um sentimento de perda. Nem melancolia.
É apenas uma constatação: no ponto em que estamos, somos ricos em impossibilidades.
Senti tristeza pelos sorrisos que jamais voltarei a colher em seu rosto.
Pelas tardes e noites que não passaremos juntos novamente; pelas viagens que não faremos; pelas caminhadas de mãos dadas; os banhos de mar e banheira que não tomaremos; o vinho que não beberemos nos dias de inverno.
Puro sentimento de perda pelos afagos, carinhos e ternura que não dividiremos jamais, ainda que decidíssemos nos entregar, mais uma vez, ao sentimento de que nunca deveríamos ter nos afastado.
Em nome da vida, me parece que abrimos mão do amor.