top of page

Fascismo nas alturas

  • Sérgio Bandeira de Mello,Gico
  • Jun 15, 2017
  • 2 min read

Extremamente difícil de desenhar, pois não bastaria a quem coubesse o encargo a tarefa de caprichar na imagem de um grupo de italianos marchando de olhos vidrados e raivosos, punhos cerrados, bocas abertas salivando violência pelos cantos, todos vestidos de camisas pretas em vez da popular azurra, enfim o trabalho de definição de fascismo nos nossos dias foi muito bem executado.

Isso porque as redes sociais têm mostrado que havia uma dificuldade enorme de assimilação do conceito de fascismo por parte de manifestantes e internautas de uma maneira geral. Com tantas alusões errôneas e erráticas ao mal rotulado personagem atual, a pátria educadora, então no uso de suas atribuições, treinou direitinho o seu pessoal mais engajado para pôr fim ao mau emprego da língua.

Na cartilha petista, por exemplo, deve estar escrito: o fascista viu o ovo reformista. Ou: vovó viu o voto fascista na social democracia.

Não porque alguns elementos acusados de fascismo não guardem qualquer semelhança com o movimento original, nascido na Itália de Mussolini, mas devido ao fato de que o substantivo/adjetivo teria sido completamente desvirtuado. E efetivamente o foi, no intuito de atingir todo e qualquer adversário dos ideais bolivarianos encampados pela nossa autoproclamada esquerda, sempre fiel a Fidel, também o mestre de Chávez que mandou Raul tocar Cuba, em vez de tocar Raul na ilha.

Fascistas, pela cartilha formulada e distribuída pelos aliados do sul da Venezuela, seriam aqueles que, nas ruas, não aceitam as determinações do Comandante, encarnado em um passarinho que gorjeia aos atentos ouvidos de Maduro, em despachos matinais nos jardins do Palácio de Miraflores.

Fascistas, pelas narrativas que encantam os corações valentes, seriam os que lutam contra o pragmatismo encerrado na corrupção do bem, mal necessário que atingiu tantos guerreiros do povo brasileiro, heróis vítimas do cínico moralismo da Lava-jato, mártires dos direitos dos trabalhadores que não se furtaram a botar a mão na abençoada merda.

Portanto, o atual xingamento de fascista havia perdido a função de identificar mínima e historicamente um cidadão partidário das práticas totalitárias que grassaram na primeira metade século passado, e que aqui respondeu pelo nome de integralismo. Hoje se encaixaria em qualquer pessoa que porventura quisesse manifestar publicamente a sua opinião política contrária ao Partido dos Trabalhadores e a seus fiéis aliados.

Ativista rival ou não, éramos todos inimigos fascistas aos olhos raivosos dos militantes mortadelas. A não ser pela predominância do tom avermelhado quando a carne é fraca, os embotados embutidos guardam, quando combinados aos pepperoni ligados à Academia, grande semelhança com os salames italianos.

No entanto, didaticamente, fruto da mais cultuada essência da pátria educadora, o lamentável episódio que envolveu a jornalista Míriam Leitão de Brasília ao Rio acabou por dirimir todas as dúvidas acerca do que é fascismo em qualquer cartilha. O avião viu o ovo.

bottom of page