Por que há que se Temer o poeta?
- Jason Prado, DP
- Jun 11, 2017
- 2 min read

Já se falou muito do Presidente.
Agora, então, que ele deixou a condição de pato manco para encarnar o papel de assombração palaciana, não interessam mais ao País as suas colocações sobre o Estado, a pose de acadêmico parnasiano, nem o seu falar empolado.
O que repercute e bomba nas redes são seus encontros subterrâneos, suas caronas mochileiras e as urdiduras de espionagem, transformando a pacata Brasília numa versão sub-equatoriana das novelas de Ian Fleming, aquele que inventou James Bond.
Sérios que somos, não teríamos como surfar nesse mau momento presidencial sem correr o risco de transformar o Diário numa publicação jocosa, fofoqueira, apequenada como os desmentidos oficiais.
Preferimos um caminho que, até aqui, nos parece virgem e descontaminado, como as provas que acompanham seus passos, para falar de sua Excelência, o Temerário Temer.
Fomos à sua poesia.
Acredite, leitor, o Professor Michel Miguel Elias Temer Lulia também é poeta. Ou assim se considera. Quiçá, candidato a encostar suas chuteiras na Academia, onde permanecerá na imortalidade ao lado de outros importantes intelectuais brasileiros, como o maranhense-saxônico Sir Ney, de alta fidalguia.
Isso, é claro, se não precisar fazer uma temporada sabática em Curitiba, ou em qualquer outro estabelecimento sócio-educativo federal, onde poderá exercitar seus dotes de professor, e terá muito tempo para aprimorar o dizer poético.
Anônima Intimidade, da TopBooks, é um desses livros que só se publica quando o autor ocupa um cargo de Governador de Estado pra cima.
Fora dessas hipóteses é garantia de prejuízo. Desprestigia o catálogo de qualquer editora.
Como o autor em tela já era Vice Presidente, e hoje ocupa a cadeira mais importante do País, o livro não só insere o editor num exclusivíssimo círculo de comensais da República, mas ainda deve garantir a permanência da editora em todas as listas de mais vendidos de todo o território nacional. Não faltam, enfim, anônimos candidatos a alguma intimidade com o autor.
Anônima Intimidade faria um bem à biografia do autor se permanecesse anônimo. Mas como a biografia - a se confirmar o que se diz na imprensa - está se metamorfoseando rapidamente em prontuário, não custa aumentar nosso assombro olhando para alguns de seus poemas.
Para dar conta da tarefa, convidamos alguns especialistas em literatura, sociologia e psicanálise e metemos a mão na massa. Criamos uma seção no Diário chamada “Sem intimidades com a poesia”, e queremos que você contribua para o enriquecimento do assunto.
O primeiro da série será escrito por José Durval Cavalcanti de Albuquerque, psiquiatra, psicanalista, conselheiro editorial dos Cadernos de Leituras Compartilhadas e membro fundador do grupo PsiLítera de estudos de Psicanálise e Literatura.
O título do poema requeria essa especialidade: O outro sou eu.
E para animar o debate, fique com esse pequeno aperitivo da Anônima Intimidade do Presidente Poeta:
“Outra Vez
Faço.
Refaço.
Penso.
Repenso.
Vejo.
Revejo.
Considero.
Reconsidero.
Que desastre seria
Se não houvesse
O RE.”