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O mecanismo - Por um título quilométrico

  • Sérgio Bandeira de Mello, Gico.
  • May 16, 2017
  • 2 min read

Ficcionista que sou, confesso que estou um tanto ansioso para ver como José Padilha vai botar um pouco de verossimilhança na fantasiosa realidade da Lava-jato. E de que jeito vai reduzi-la. A série, ainda antes de nascer, já teve seu batismo sacramentado, mais ou menos como fazíamos na primeira ultrassonografia conclusiva, sem querer agredir a progressista política de gênero.

Tudo indica que O Mecanismo vai arrebentar, no bom sentido, sem emperrar nas dezenas de capítulos necessários à compreensão do nosso até então generoso presidencialismo de coalizão carregado no azeite.

A despeito do sucesso da consagrada operação original, cujo título talvez já tivesse sido patenteado de antemão, o que não seria problema diante da envergadura do projeto da Netflix, o diretor foi buscar outro, mas, a meu ver, pecou pelo excesso de minimalismo.

A monumental dificuldade em tornar nossos corruptos e ladrões mais reais aos telespectadores dos países não bolivarianos ou clientes da Odebrecht pode ter saída se uma solução for espelhada na planilha do Setor de Operações Estruturadas, para nós o inusitado e já bastante familiar Departamento da Propina.

Por outro lado, na ficção pura, há um filme de Peter Greenaway, de 1989, estrelado pela ótima Helen Mirren, considerado cult, bem irritante, por sinal, que tem o nome de “O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante”. O título me levou ao cinema. Infelizmente, mas levou. Na trama e nas planilhas, contamos com tudo isso e muito mais. E com duas cozinhas Kitchens para preparar o molho.

Depois da divulgação do tórrido relacionamento da ciumenta e apaixonada Senadora Narizinho com um delator falastrão – “os homens são todos iguais” será um clichê inescapável ao roteirista -, quando pudemos todos compreender que a Amante não era a oficial do Amigo, o enredo ficou completo no núcleo rico da trama. Já no núcleo pobre, temos a abnegada aeromoça do Aerolula, a gueixa das agências reguladoras, o amor incondicional ao Amigo.

O lado sensual do Mecanismo poderá ser largamente desenvolvido inclusive atrás das grades, em visitas íntimas recheadas de celulares. Isso para não citar o romântico caso entre o doleiro volúvel e a doleira desprezada, assumido em plena CPI, quando um rubor coletivo subiu às faces de Suas Excelências.

Sugiro um subtítulo quilométrico, com etc opcional a partir do décimo personagem para a divulgação em releases, mas completo na imagem, correndo na vertical durante a abertura da série.

Com o devido socorro das planilhas, que incluiriam os primeiros arquivos em Excel organizados pelo primeiro delator voluntário, Barusco, sugiro: O Amigo, suas Cozinhas, as Amantes, os Ladrões e ainda: os Mochilas, o Roxinho, o Proximus, o Vizinho, o Atleta, o Justiça, o Avião, o Nervosinho, o Mineirinho, o Italiano, o Babel, o Pós-Itália, o Babão, o Oxigênio, a Barbie, o Angorá, o Santo, o Caju, a Solução, o Boca Mole, o Botafogo, o Caranguejo, o Drácula, o Escritor, o Fantasma, a Feia, o Viagra, o Lindinho, o Filósofo, o Corno, o Guerrilheiro, a Tia, o My Way, o Missa, a Musa, o Anão, etc. Trata-se, antes de tudo, de um mecanismo por meio do qual pode-se abusar do teaser sem a possibilidade de spoiler.

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