Os nossos italianos
- Sérgio Bandeira de Mello, Gico
- Mar 14, 2017
- 2 min read

Há cerca de 20 anos, quando o Japão dominava com absoluta folga o mercado de aparelhos eletrônicos, foi lançada pela Semp Toshiba uma série de comerciais em que a assinatura era: nossos japoneses são mais criativos que os japoneses dos outros.
Em termos de comunicação, pelo menos, a ideia da agência Talent revelou-se uma verdadeira Brastemp. A estratégia foi sustentada por meio de filmes memoráveis que lograram sedimentar o conceito de inovação na cabeça dos potenciais consumidores.
Como desenvolvimento de tecnologia definitivamente não é a nossa praia, mas criatividade jamais nos faltou, pois elegemos os baianos para preencher qualquer eventual lacuna, a ressalva da mensagem que restringia a anunciada competição do mercado de televisores, videocassetes e CD players ao âmbito nipônico era indispensável.
De outra forma, régua e compasso baianos destruiriam os circuitos integrados da Terra do Sol Nascente. Sim, pois velhos e novos baianos revezam-se no topo do marketing musical desde que o mundo do rádio era movido a válvulas.
A partir da década de 1960, Caymmi, de sua rede, viu Caetano e Gil passarem o bastão para o time capitaneado por Moraes Moreira, ao tempo em que Betânia e Gal, com muito axé, guardavam lugar para os trios elétricos de Daniela Mercury e Ivete, os mais concorridos desde a inovação lançada por Dodô e Osmar, mais tarde popularizada por Armandinho, filho de um pioneiro da eletricidade baiana, a exemplo de Emílio Odebrecht.
Na propaganda não foi diferente, sobretudo na política, onde Duda Mendonça e João Santana souberam exportar o modelo brasileiro para boa parte da América Latina e África sob as asas não da inesquecível Varig ou de qualquer companhia aérea, mas de outra empresa da Boa Terra.
A Odebrecht é criativa no caixa 2 desde a década de 1940, quando foi fundada pelo patriarca Norberto, pai de Emílio, avô do Marcelo, o criador das ora populares planilhas que contabilizavam a movimentação do setor de operações estruturadas.
Ao estruturarem com auxílio da informática talvez japonesa as imemoriais propinas na terceira geração da família, apelidos foram necessários. Assim, Emílio, o amigo do Amigo Lula, disse ao juiz Moro que não podia afirmar que Palocci era o Italiano constante do Excel apreendido pela PF, pois eram muitos os contatos com sobrenomes oriundos do País da Bota.
“Também poderia ser o nosso Palocci” – escorregou o pai de Marcelo no pronome possessivo, criando ainda mais dificuldades ao italiano que antecedeu o Pós-Itália, Mantega.
Os nossos baianos são mais criativos que os baianos dos outros, poderiam anunciar os responsáveis pelo Maracanã, Fonte Nova de negócios escusos.
Já os meus baianos são os meus saudosos avós, tios e tias, que ajudaram a me criar.