Eu quero mocotó
- Flávio Cavalcanti Jr, DP
- Dec 27, 2016
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A querida figura que está no centro dessa foto é o meu amigo Erlon Chaves. Maestro e arranjador e principalmente um ser humano maravilhoso, que morreu muito cedo lá se vão 42 anos. Participava do júri do Programa Flavio Cavalcanti. Tinha uma Orquestra deliciosa chamada Banda Veneno ao melhor estilo Big Band americana, com sotaque brasileiro. Um dia, Jorge Benjor, lhe mostra uma música que tinha acabado de ser classificada para o Festival Internacional da Canção, que colocava o Maracanãzinho em pé de guerra nas torcidas pelas suas canções favoritas. Era um Fla x Flu musical. A vaia que Sabiá, uma das mais belas parceria de Chico e Tom levou, ao ser declarada vencedora, até hoje ensurdece os meus ouvidos.
Pois Jorge compôs uma brincadeira chamada QUERO MOCOTÓ.
A letra um verdadeiro poema:
"Quero Mocotó, eu quero mocotó
Quero mocotó , eu quero mocotó
Quero mocotó, eu quero mocotó
Eu cheguei e tou chegado
Tou com fome e sou pobre coitado
Me ajudem por favor
Botem mocotó no meu prato”
E por aí seguia a poética canção.
Erlon resolve apresentá-la na forma de um happening. Faz um arranjo tremendamente suingado e monta uma coreografia com essas lindas meninas que ilustram a foto. Elas dançavam em volta dele e uma a uma parava a sua frente dando um bitoca no lábio.
Um sucesso apoteótico!
Mas em 1972 além de perseguir Comunistas com ou sem aspas, o hobby de alguns militares era perseguir com igual prazer, espetáculos que consideravam atentados à moral e bons costumes e o espetáculo, que tanto sucesso fez, foi considerado por um Coronel, indecente e prepara sua maligna vingança.
Um domingo depois, estava meu amigo no palco da TV Tupi, na Urca, ensaiando o repeteco da apresentação, quando alguns meganhas fantasiados de civis, arrancam ele do palco e o atiram no piso do banco de trás de uma veraneio. Erlon fica uma semana desaparecido. Meu pai tinha alguns contatos no Exército e intuía que aquilo tinha sido coisa de milico. Liga pra cá, liga pra lá, chega a falar com o General Sizeno Sarmento, poderosa figura do então poder vigente.
Nada, ninguém sabe dele. Conosco não está! Era a resposta padrão. Até que numa tarde, o soltam. Ele permaneceu esse período no Quartel do Exército em Vila Isabel, não foi torturado e teve o privilégio da companhia do Jurista Heleno Fragoso, que também estava preso. Não sob a acusação de atentado à Moral e Bons Costumes, mas por atentado contra a ditadura. Crime mais sério, é claro!