"Quem tem põe, quem não tem tira"
- Sérgio Bandeira de Mello - Gico
- Jun 26, 2016
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A expressão, anunciada durante a pregação do pastor, dá início à arrecadação, necessária à manutenção das instalações da igreja e da ampliação do alcance da palavra do Senhor. Ou desse senhor, considerada a liberdade de culto. Constitui a sentença a partir da qual é iniciada a passagem da sacola de doações, espécie de puçá com o cabo comprido o suficiente para cobrir, no mínimo, meia largura das fileiras dispostas para a audiência.
Em termos práticos, dado de forma aberta, mas de mão fechada, o gesto significa a esmola que sustenta a instituição e que, pelo prisma da comunidade, possuiria o poder instantâneo de salvar da fome e do frio os fiéis mais desesperados, sobretudo aqueles que não conseguem, por vergonha ou princípio, esmolar de forma direta. Trata-se, portanto, do fundamento de uma mínima distribuição de renda entre determinada sociedade, alicerce dos programas assistenciais, também promovidos por governos laicos.
Por outro lado, a estrutura de pessoal sustentada pela arrecadação de impostos proporciona a acumulação de um enorme montante mensal, destinado a pagar os salários da massa do funcionalismo. Astronômico pulo do gato, a movimentação desses recursos revelou-se a fonte do crédito consignado, caracterizado pelos juros bem mais baixos que os praticados no mercado, em função de ser a inadimplência praticamente nula.
Se a iniciativa de determinado governo municipal ou estadual podia levar a instituição bancária conveniada a exigir juros dos interessados compatíveis com a possibilidade de quebra, vide descalabro financeiro do estado do Rio de Janeiro por pilhagem, queda de arrecadação e aumento do custeio, no plano federal o eventual debacle só geraria inflação, nada que tire o sono dos bancos.
Como, fora do BNDES, o custo do dinheiro no Brasil é absurdo, ainda mais esmagador para a pessoa física, haja vista o que se cobra no cheque especial e no cartão de crédito, o empréstimo com desconto em folha foi um estrondoso sucesso entre funcionários públicos e aposentados, inativos ou inválidos que recebem diretamente do INSS, outra fonte segura.
Ora, se a origem do sistema está na distribuição de renda, e se a oposição deseja ardentemente acabar com os programas assistenciais, o PT nada mais fez que proteger os velhinhos a longo prazo, espécie de vacina contra o neoliberalismo recidivo. Dos R$1,25 cobrados de cada funcionário, aposentado ou pensionista, o partido tomou para si e seus abnegados representantes a módica quantia de R$0,95. Ou seja, menos de 1 real pela permanência no poder do partido que luta pelos pobres, espécie de spread do bem!
Se, aparentemente, a máxima do pastor petista pode ser compreendida pela mensagem contrária, algo como “quem tem tira, quem não tem põe”, não tem ideia do que está em jogo, do impeachment ao pré-sal.
De minha parte, talvez em coro ao atacado Brasil 247, temo pelos milhões e milhões de pequenas contribuições compulsórias ao partido e a seus desinteressados benfeitores. Que adaptação há de sofrer o discurso-carimbo, o de que as doações foram legais e aprovadas pelo TSE? Como combater as ilações que voltam a tentar criminalizar o PT e seus mártires?
Não basta que Paulo Bernardo tenha sido injustamente capturado em território sagrado pertencente ao Senado, legítima conquista de Gleisi Narizinho na saúde e na doença, na fartura e na miséria? Que eles sigam sempre juntos. Afinal, se Deus pôs, não há juiz de primeira instância ou STF que os possa tirar do foro privilegiado.