Quando a arte da política vira a arte de furtar
- Eduardo Simbalista, DP
- Jun 23, 2016
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Chamavam-se “santinhos” os folhetos promocionais dos candidatos à política. O mundo era ingênuo, o país era ingênuo, éramos ingênuos. Sabíamos apontar quem “roubava” na política.
“A política é a moral do coletivo: a ética é individual; a política é doutrina moral social. O fim último do Estado é a virtude, isto é, a formação moral dos cidadãos e os meios necessários para isso”.
Longe a polidez da polis: a arte da política, que é o exercício da cidadania, base da vida social do homem social, dá lugar à ditadura do político “profissional” e da truculência da polícia.
O homem deixa de ser o “animal político” aristotélico para se transformar no imbecil despolitizado, orientado em manadas famintas para a experiência do consumo e do prazer.
A política é para quem é do “ramo”: a política é duro sacrifício de poderes hereditários patriarcais, famílias oligárquicas zelosas em alimentar gordos negócios nos intestinos do poder, onde o ambiente de patifarias favorece acordos, alianças, traições e conjurações.
Embriagados pela impunidade, enganam com “frases melífluas e redondinhas” e se elegem representantes do povo. É quando o circo chega ao parlamento e ali se instala.
As bizarrias e aberrações das oligarquias não têm outro objetivo senão a de se perpetuarem no poder, sucumbindo ao prazer e ao vício do roubo. Espertos na “arte de furtar, espelho de enganos, teatro de vaidades” como no tratado de Padre Antônio Vieira Zeloso da Pátria.
Não se espantam diante de uma realidade deformada, de um Estado falido e de uma nação em ambiente profunda e continuamente decadente. Nesse bordel corrupto e corrompido em que transformaram o Estado, parece não haver saída: as saídas estão entulhadas de ladrões enredados em patifarias e mercenários interessados em “se arrumarem”.
“O maior mal que hoje padece o mundo e os mundanos é de pouca vergonha”, já escrevia D. Francisco Manuel de Melo, em seus Apólogos Dialogais.
A política é a arte mais sedutora do mundo: dela ficou o prazer sádico de foder o povo, bando de céticos catatônicos, que critica, fica indignado, vai perdendo a calma e, no final, vota mal no mesmo sistema político viciado. Até que venha nova revolução dos 20 centavos para fazer a necessária reforma política.