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La mano derecha de Dios

  • Sérgio Bandeira de Mello - Gico
  • Jun 14, 2016
  • 2 min read

Dia dos namorados, Peru pela frente, véspera de dia de Santo Antônio se misturando com o próprio dia do santo casamenteiro. A imagem muitas vezes é colocada de cabeça pra baixo para satisfazer algumas simpatias matrimoniais que, por sinal, sobretudo o da cruz, não deveriam contar com a simpatia da Igreja.

Não sei se por isso muita coisa tenha acontecido fora dos padrões estabelecidos pela ecumênica FIFA, vítima de caça às bruxas em território ianque, pois que las hay, las hay, algumas presas por tornozeleiras ao próprio caldeirão de maldades.

Pois já perto da meia-noite, o Peru pré-colombiano deu tratos à bola em plena América da Copa Centenária, cem anos de solidão de títulos, condenada ao Brasil.

Em lance do mais puro realismo fantástico, digno de Manuel Scorza, autor de Bom dia para os defuntos, Ruidiaz, nome e sobrenome, tudo junto e misturado, misturou-se aos deuses incas e conseguiu o imponderável: cegou simultânea e instantaneamente o juiz e o quarto árbitro. Flexível, o cego que logo voltou à luz apelaria ao deus da tecnologia, ligado aos seus olhos pelos ouvidos. E o que se viu em Boston, Nova Inglaterra, onde desponta Harvard, terra do conhecimento, mas também das bruxas de Salem, ali pertinho, sacrificadas pela ignorância?

Penso eu que o mestre limenho que bebeu nas águas mágicas e cristalinas do altiplano pode ter acionado, lá do céu dos escritores, a mão direita de Deus, poupada por Maradona há exatos 30 anos em terras astecas. Afinal, seu gol de pé esquerdo, após enfileirar a nova Inglaterra de Thatcher, foi divino.

O fato é que a geradora da imagem televisiva boicotou o padrão FIFA de obscurantismo, expondo o desconcertado trio de arbitragem ao mais absoluto ridículo. E o fez justamente pela via do atraso, por meio de poções do próprio veneno, ministrado a todos para permitir a venda de jogos e títulos de longo prazo.

Venceu o Peru. No aeroporto, em cada cidade brasileira, será tempo de dar bom dia aos nossos defuntos, sacrificados pela ignorância.

Mesmo de cabeça pra baixo, Santo Antônio sabe que, nesse frio de rachar, o bom é ficar longe da seleção e bem acompanhado na cama. Até para não ver a equipe de Dunga encarar a Colômbia, que joga com os craques Cuadrado, James Rodriguez e Garcia-Márquez, este um cracaço.


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