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Machadadas machadianas

  • Sergio Bandeira de Mello - Gico
  • Jun 5, 2016
  • 2 min read

Ao abraçar o realismo por força das circunstâncias, Machado abandonou o romantismo contido no idealismo da política, exaurido pelo tempo de exposição à luz. Ao pôr pra fora, ao vomitar chefe e bando não por enjoo, mas pelo dedo do filho na goela, Machado delatou, enfim, o desmoralizado conceito de vida pública. Lançou na privada a falácia da entrega, e levou ao esgoto o retórico sacrifício em nome de algo maior, sem adjetivos ou saneamento básico.

A entrega resumiu-se a dezenas e dezenas de milhões ao padrinho apadrinhado pelo Chefão, donatário de seus navios, e comparsas de tripulação.

Longe da aflição causada por um enigma de Capitu em tempos de DNA de laboratório ou de linhagem ética, embarcou centenas de milhões ao porto seguro do filho em Londres, sempre pronta a abrigar fortunas vitoriosas de gente de ilibada moral vitoriana.

Ancorado em um frio organograma, a reboque da frota, Machado recebera uma missão, a de prover de recursos o partido e seus altos comissários, todos partidários do esquema que buscava imitar o Império Britânico em sua consagrada mensagem de poder, a que alardeava que o sol jamais se punha em seus domínios.

A Petrobras, instalada das Américas à Ásia, por absurdo presente até mesmo no longínquo Japão, exploradora da África e comerciante na Europa, abriu os portos e os cofres ao destemido corsário dos sete mares.

Se navegar era preciso, viver também o era em terra firme, às pedaladas. Afastada das águas, mas não das turvas e profundas, a rainha louca, sempre com a afiada espada do antecessor no pescoço, esbravejava com armadores e construtores, tal e qual papagaia de pirata: é pra pagar! É pra pagar!

Caiu pela palavra ou pela falta dela com a marujada do baixo clero. Pródiga em asneiras sem nexo, enxuta de ideias além das comprovadamente fracassadas, emergiu da crise uma líder inconteste. A sem força aérea arrasta com ela um elenco de artistas, meia-dúzia de desatinados, minguantes batalhões de mercenários e destacamentos de estudantes e professores em greve, hoje um pleonasmo, como outrora ensinavam certos incentivadores da cultura de Machado, o de Assis. Para esses eternos manifestantes sem leitura ou reflexão, Brás Cubas poderia ser o plural de um programa bilateral de cooperação entre a Ilha dos Castro e a Ilha Fiscal, onde segue o baile, à espera da verdadeira república, sem os adornos falsos do romantismo decadente.


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